Torcida da Ponte Preta se junta a Daniel Alves: “Somos todos macacos”

Torcida faz campanha contra o racismo no futebol e lembra do marcote do time

Usar humor e tirar o peso da ofensa para lutar contra o racismo. A proposta lançada pelo atacante da Seleção Brasileira, Neymar Jr., na campanha #SomosTodosMacacos, em resposta a mais um ato de racismo no futebol.

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Campinas, SP, 28 (AFI) – Usar humor e tirar o peso da ofensa para lutar contra o racismo. A proposta lançada pelo atacante da Seleção Brasileira, Neymar Jr., na campanha #SomosTodosMacacos, em resposta a mais um ato de racismo no futebol (desta vez contra o lateral direito Daniel Alves em jogo do Barcelona) dá certo e a torcida da Ponte Preta é um exemplo disso. Primeira democracia racial do futebol brasileiro, com afrodescendentes em campo e em sua diretoria desde a fundação em 11 de agosto de 1900, a Macaca de Campinas transformou preconceito em orgulho.

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Os torcedores do clube sempre foram animados e acompanhavam o time em todos os jogos do interior do Estado de São Paulo. Por ter na torcida uma base popular e operária, e por ter muitos negros tanto em campo quanto fora dele torcendo pelo sucesso do time, muitas vezes o time era recebido nos estádios adversários de maneira hostil. Nos anos de 1930, eEm uma época em que o conceito de racismo mal era conhecido, os rivais falavam que a torcida era formada por “macacos”, que o time era uma “macacada”.

Em vez de brigar, o time e a torcida transformaram hostilidade em bom-humor e assumiram o apelido: a Ponte tem orgulho desde sempre de ser a Macaca, todos os seus torcedores amam a Macaquinha e fazem questão de ser os macacos do alambrado. Sempre que há um pênalti no majestoso, a torcida imita macacos (aos gritos de “uh, uh, uh”) para incentivar os jogadores, o mascote do time é uma macaquinha e o utilizado para animar os torcedores é um gorila.

Ano passado, quando a Ponte disputou a Sul Americana e foi para a Argentina duas vezes enfrentar o Vélez Sarsfield, nas quartas, e o Lanús, na final, houve torcedores locais que – sem saber do apelido – tentaram provocar os pontepretanos com gestos e barulhos de macacos. Em resposta, os brasileiros endossaram os gritos e pularam feitos macacos, para a surpresa dos argentinos.

Seja no campo, na torcida ou em sua diretoria, a Ponte Preta segue um conceito que espera ver amplamente popularizado no mundo: aqui há uma única raça, a raça humana. Além dessa, só aquela que os jogadores têm de mostrar em campo.

Campanha contra o racismo
Neste domingo, em partida pelo Barcelona, integrantes da torcida rival (Villareal) jogaram em campo uma banana para o lateral Daniel Alves, com intenção de ofendê-lo. Em um gesto bem humorado, o jogador comeu a fruta. “ Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados”, disse.

Pouco depois, o atacante Neymar lançou nas redes sociais a campanha #SomosTodosMacacos, com um vídeo no qual destaca que “uma ofensa só pega quando irrita você; vamos acabar com isso” e convoca todos a serem Macacos. A Macaca de Campinas assina embaixo: aqui somos, sim, todos macacos. Há quase um século, e nos orgulhamos muito disso.