Streaming dá visibilidade às mulheres com transmissões esportivas

"Poucas marcas sabem que os esportes femininos têm um propósito atrelado à narrativa de sua história. Precisamos eliminar esse descompasso entre a oferta e a demanda."

A plataforma de streaming NSports desenvolveu um projeto para dar mais visibilidade as mulheres através das trnsmissões.

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Campinas, SP, 15 – A indústria do esporte tem acompanhado nos últimos anos um estreitamento, ainda que tímido, na distância entre as categorias feminina e masculina no que diz respeito à ampla cobertura e premiações. Porém, atender e aproximar o público de modalidades disputadas por mulheres continua sendo um desafio para quem busca atender essa demanda – muitas vezes reprimida. Foi pensando nisso que a NSports, plataforma brasileira de streaming esportivo, desenvolveu um projeto para dar visibilidade à mulher através das transmissões de provas e jogos.

Quem minimiza a busca por igualdade de gênero dentro do esporte costuma argumentar que os eventos disputados por mulheres não dão audiência, consequentemente não sendo rentáveis o suficiente para justificar o apoio de patrocinadores. Para Guilherme Figueiredo, CEO da NSports, reverter essa mentalidade passa pela criação de um ecossistema em torno do esporte feminino, trazendo ao público os bastidores de clubes e equipes, além das histórias pessoais dessas mulheres.

“Poucas marcas sabem que os esportes femininos têm um propósito atrelado à narrativa de sua história. Precisamos eliminar esse descompasso entre a oferta e a demanda. Amplificar as vozes femininas no esporte tem um enorme valor potencial para as marcas. Não apenas financeiramente, mas também em termos do que sinaliza para a igualdade de gênero”, diz Figueiredo. “As marcas devem ser guiadas por um propósito e comunicar ações a consumidores e parceiros de maneira clara e efetiva. Não é apenas um porta-voz. É preciso se conectar com as pessoas de forma genuína. É preciso mais ‘storydoing’ e menos ‘storytelling’.”

ESTUDO

A Unesco publicou no ano passado um estudo apontando que apenas 4% do espaço na cobertura esportiva é dedicado às modalidades disputadas por mulheres. Apesar dos números desanimadores, o futebol feminino se mostrou ferramenta importante para capitanear futuras mudanças de como o meio empresarial enxerga a mulher no esporte. Ainda em 2021, uma consultoria publicada pela Deloitte, uma das principais empresas do ramo de auditoria, indicou que a Copa do Mundo da França, vencida pelos Estados Unidos dois anos antes, bateu recorde de audiência, com 993 milhões de telespectadores na TV e outras 482 milhões de pessoas que acompanharam o torneio pelas plataformas digitais.

A decisão da NSports em colocar em prática um projeto voltado para o esporte feminino é ancorada justamente nesta tendência que os números acima apontam. A simpatia gerada pela causa, ainda que esbarre na desconfiança de quem deseja apostar no negócio, é um dos trunfos da empresa na busca por patrocinadores que estejam alinhados ao discurso de mudança.

“Raramente um campeonato é transmitido na sua íntegra, do início ao fim. Apenas alguns dos jogos são escolhidos para serem transmitidos e, normalmente, são os jogos dos times mais fortes, com maior possibilidade de vitória. Isso acontece não apenas no futebol, mas também nas demais modalidades esportivas. Um exemplo é o futsal feminino. Temos 13 anos seguidos de título de melhor jogadora do mundo entre duas de nossas atletas. E pouquíssimas pessoas sabem disso”, diz Figueiredo. “Estamos trabalhando cada vez mais para conseguir transmitir as competições esportivas. É um trabalho em conjunto com as ligas e confederações e uma busca persistente pelo apoio das marcas”, concluiu.

STREAMING É O FUTURO?

Com um grande know-how na produção de transmissões esportivas – são mais de 400 eventos femininos, 500 mil de horas de transmissão e 300 mil horas assistidas -, a plataforma tem planos de produzir conteúdo original em diferentes formatos para contar a história de grandes figuras femininas. E não apenas no futebol, mas também em outros esportes que tiveram sucesso com mulheres na Olimpíada de Tóquio, como tênis, ginástica artística, boxe e natação.

“Estamos prospectando marcas para fazer uma Websérie sobre mulheres no esporte, para fazer um documentário sobre uma medalhista e abertos para gerar conteúdos, sejam dos eventos ou dos bastidores. Agora é o momento de fazer as pessoas se identificarem com nossos valores, sentirem-se íntimas e profundamente conectadas com essas histórias. Esse é um dos caminhos para gerar audiência”, diz Figueiredo.

MULHERES NA NARRAÇÃO

Além das quadras e dos gramados, as mulheres também têm mostrado talento notável com o microfone. Nos últimos anos, a presença feminina nas transmissões esportivas têm chamado atenção dos torcedores, apresentando ao público nomes como os das narradoras Renata Silveira e Natália Lara. Este também é o caso da Milla Garcia, do NSports, com trabalhos no SporTV, DAZN e TNT Sports. Sem referências femininas para se espelhar antes da carreira, a baiana de 36 anos acredita ser uma “questão de tempo” para o público se acostumar a ver mulheres narrando.

“É triste saber que as pessoas não sentem falta da mulher em determinados papéis. Hoje penso em quais lugares nós não ocupamos e por que não nos incomodamos com isso. As pessoas não estão acostumadas com mulheres narrando, mas isso também não vai fazer a gente parar. Fiquei a vida inteira ouvindo homens narrando, agora vamos dividir esses espaços”, diz.

Milla Garcia comenta que as plataformas alternativas, sem os vícios da mídia tradicional, são importantes no processo de acolhimento do público com a presença das mulheres. Ela ainda contesta o fato de que a falta de patrocínio nos esportes femininos ocorra pela falta de audiência, mas sim pela pouca visibilidade dada ao produto nos meios de comunicação.

“Quem acompanha futebol há 40 anos se acostumou a ver o time dele na TV ou no rádio com um homem narrando. Quando existe uma partida em uma plataforma nova, seja ela site ou aplicativo, quem está assistindo já está recebendo uma novidade. Se tiver mais alguma – como uma mulher narrando – elas aceitam melhor, por ser mais inovador de forma geral”, explica.

“Como vamos ter o mesmo nível dos homens, inclusive em termos de espetáculo, se até pouco tempo atrás nem podíamos jogar futebol? Mas, se todas as emissoras colocarem futebol feminino na grade, as pessoas irão gostar naturalmente. Falta coragem das emissoras de colocar. Tenho certeza que o futebol feminino cada vez mais terá esses espaços, as pessoas vão consumir, assim como outros esportes praticados por mulheres também.”

Rodrigo Sampaio

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