Campinas, SP, 5 (AFI) – O Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo – SAPESP – fez uma verdadeira ‘operação de resgate’ no Jaguariúna Futebol Clube, nesta terça-feira à tarde. Dezesseis jogadores, sem receber salários há quatro meses, e com dificuldades de estrutura, como falta de alimentação adequada, pediram ajuda ao Sindicato para voltar para casa.

O presidente do clube, conhecido pelo codinome William Zidane, inclusive está sendo investigado pela Interpol – Polícia Internacional – por abandonar dois jogadores colombianos no Aeroporto de Guarulhos há duas semanas. Eles teriam dormido no aeroporto por seis dias até que foram encaminhados à Polícia Federal.

INTERPOL INVESTIGA
Depois seguiram para a Colômbia. Seus procuradores teriam pago sete mil dólares – perto de R$ 32 mil reais – ao dirigente Zidane para serem inscritos no clube. Mas, nem isso, aconteceu porque eles tiveram problemas com os passaportes.

Estes 16 jovens abandonados pelo clube têm entre 18 e 23 anos, a maioria mora longe de Jaguariúna, cidade localizada na região metropolitana de Campinas.

Entre eles estão jogadores de Alagoas, Rio Grande do Norte, Brasília, Minas Gerais, Maranhão, Pernambuco e Piauí. Alguns já ‘pais de família’. Todos com o sonho de virar famosos e ganhar um novo patamar na vida.

AÇÃO EFETIVA DO SINDICATO
Presidido por Reinaldo Martorelli, o Sindicato dos Atletas, agiu com muita força neste episódio lamentável para o futebol. Sempre atuante nestes casos, esteve no clube acompanhado de sua equipe, o diretor Mauro Costa inconformado com mais um ‘descaso de pessoas sem escrúpulos’.

“Infelizmente esta é a realidade que encontramos aqui. Jogadores profissionais, jovens ainda, mas sem qualquer condição de exercer a sua profissão. Muitos são arrimo de família e estão passando dificuldades financeiras, além de dificuldades até de alimentação” – explicou Mauro Costa.

O Sindicato agiu com inteligência. Pegou a procuração de todos os atletas e vai encaminhar o caso para seu departamento jurídico.

DIREITOS GARANTIDOS
A tendência natural é que na Justiça do Trabalho os jogadores ganhem a ‘liberdade’ e tenham os seus atestados liberatórios.

Além disso, tenham reconhecidos seus direitos para cobrar o clube, como salários, fundo de garantia e outros benefícios previstos na lei.

O Sindicato também encaminhará um ofício à Federação Paulista de Futebol (FPF) esclarecendo a situação que estes jogadores estavam trabalhando no clube.

A preocupação maior dos jogadores, além de voltar para casa, era conseguir a liberação do clube. Mas o presidente ‘Zidane’ só daria a liberação caso os jogadores dessem a citação dos meses em atraso. Os jogadores teriam, inclusive, sido ameaçados pelo cartola.

ACOLHIMENTO TOTAL
Mauro Costa e sua equipe já tinham estado na cidade na segunda-feira, quando registraram um Boletim de Ocorrência – B.O.. Este era um pedido dos próprios jogadores que alegam não ter conseguido registrar o B.O. na semana passada.

Ao final da tarde, o grupo seguiu para a rodoviária da cidade, indo depois para Campinas e, posteriormente, para a capital paulista. De lá seriam enviados às suas cidades, conforme a disponibilidade de transporte – a compra de passagens de ônibus. Um hotel já estava reservado para abrigar aqueles que não conseguissem passagens para casa.

“Todas as despesas serão arcadas pelo Sindicato dos Atletas, que sempre procura defender seus filiados, de forma indistinta, seja ele da Segunda Divisão ou de qualquer outra competição ou categoria” – justificou Mauro Costa.

ACUSAÇÕES CONTRA CARTOLA
O Jaguariúna Futebol clube é uma entidade privada. Zidane ocupa a presidência desde o ano passado, mas não goza de prestígio na Federação Paulista de Futebol (FPF). Ele faria um ‘caixa’ com o pagamento para inscrever jogadores, recebendo de empresários ou procuradores de jogadores.

Zidane não foi encontrado para dar suas explicações, mas autorizou a entrada no estádio municipal Alfredo Chiavegato para dois membros do Sindicato dos Atletas. Os portões estavam fechados e protegido por um segurança, que não autorizou a entrada da Imprensa. Havia apenas uma secretária no local.

ILUSÃO E DESESPERO
O cartola já estaria usando desta prática imoral há bom tempo, atraindo jogadores com uma casa enorme, inclusive com piscina e área de lazer.

“Quando a gente chegou aqui, ficou impressionado com esta casa. Mas tudo era falso, porque nem comida nós tínhamos. Teve jogo que atuamos as 10 horas da manhã e depois fomos almoçar as duas horas da tarde, uma marmita com arroz e feijão, sem nenhuma mistura. Passamos fome aqui” – disse jovem alagoano Divel Firmino, de 21 anos, que é órfã e tem uma filha de três anos em Maceió (AL).

Segundo Jesiel Ferreira, de 23 anos, de Brasília, e também casado e com um filho de cinco anos “tudo foi um pesadelo. Nós nos unimos contra esta situação e vencemos juntos, como uma equipe. É uma pena que novos jogadores estejam chegando ao clube e vão sofrer como nós sofremos até agora” – comparou.

O Jaguariúna está incluso no Grupo 3 da Segundona Paulista, onde soma apenas seis pontos e ocupa a sexta posição. Parece distante de ter uma vaga na próxima fase, destinada apenas aos quatro primeiros colocados.

No próximo domingo, dia 10, vai enfrentar o Brasilis, em Águas de Lindóia, pela décima rodada. Depois faltarão mais quatro jogos para encerrar sua participação na disputa.

AMIGO DA ONÇA
A prefeitura municipal, através de sua assessoria de imprensa, confirmou que existe apenas um acordo de cessão do estádio municipal ao clube, em troca de sua manutenção.

Com pequenas malas ou bolsas, os jogadores pareciam aliviados após a atuação do Sindicato dos Atletas e poderiam, enfim, voltar apara casa após uma experiência extremamente negativa. Mas indo embora sãos e salvos pela SAFESP.

Ironicamente, bem na frente dos portões principais do estádio municipal está estampada uma mensagem: Sejam bem vindos “À CASA DA ONÇA”, mascote do clube. Para estes garotos, todos conheceram a decepção, viveram momentos de tristeza e tensão, além de serem enganados pelo “Amigo da Onça”, como reza um velho ditado popular.