Samuel, zagueiro que abusava de chapéu

Após Ponte Preta, atleta passou por São Paulo e Palmeiras

Samuel, zagueiro que abusava de chapéu

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O dia cinco de fevereiro passado foi marcado pelo décimo ano da morte do zagueiro clássico Samuel Arruda, aos 57 anos de idade. Ele foi vítima de complicações cardíacas.

Foi o ex-atacante Babá, com passagens por Guarani e São Paulo, que indicou Samuel ao então técnico do juvenil da Ponte Preta, Zé Duarte (já falecido), para testes. E Samuca, apelido de infância, chegou ao Estádio Moisés Lucarelli na carroceria de um caminhão de areia. Era brincalhão e se divertia com gargalhadas.

Em campo, Samuel não só comprovava as qualidades de um zagueiro clássico como até abusava. No começo de carreira, era raro passar uma partida sem aplicar chapéu em atacante adversário, por puro deboche. Ele foi tão qualificado que em 1968 superou medalhões na posição e ganhou vaga no time principal da Ponte, que brigava pelo acesso à divisão principal do futebol paulista.

Evidente que um zagueiro que matava a bola no peito dentro de sua área, arriscava sem temor o drible, conduzia a bola de cabeça erguida, e tinha um passe perfeito teria de despertar interesses de grandes clubes.

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E não bastasse o estilo clássico, Samuel era um baita “ladrão” de bola. Jogava limpo e desarmava com sabedoria. No jogo aéreo, valia-se da boa estatura para ganhar a maioria das jogadas. E interceptava cruzamentos de cabeça fazendo a entrega de bola principalmente aos laterais, ao invés de rebatê-la sem direção.

Samuel, de cabelos caídos na testa, deu seqüência à carreira no São Paulo a partir de 1971, quando jogou num time que tinha, entre outros, o goleiro Sérgio Valentin, os meio-campistas José Carlos Serrão, Pedro Rocha e Muricy Ramalho; os laterais Pablo Forlan e Gilberto Sorriso, e atacantes como Terto, Serginho Chulapa e Paraná.

No Morumbi, formando dupla de zaga com Arlindo, manteve regularidade e o jeito brincalhão. O abuso de confiança, que lembrava os lendários Mauro Ramos de Oliveira e Ramos Delgado, implicou na perda da posição para o botinudo Paranhos. E assim continuou no Tricolor até 1975, quando sagrou-se campeão paulista.

Em 1976, teve a responsabilidade de substituir Luís Pereira no Palmeiras. Luisão e o meia Leivinha tiverem passes negociados com o Atletico de Madri, da Espanha, e as vagas foram repostas por Samuel e Jorge Mendonça, um meia que era ídolo do Náutico (PE).

Logo no primeiro ano de Palmeiras Samuel comemorou título estadual, na memorável vitória sobre o XV de Piracicaba por 1 a 0, gol de Jorge Mendonça, em jogo que o Estádio Palestra Itália teve público recorde: 40.283 pagantes.

O volante Dudu, que havia abandonado a carreira de jogador, foi bem sucedido como treinador ao substituir Osvaldo Brandão. O time palmeirense da época contou com Leão; Valdir, Samuel, Arouca e Ricardo; Pires, Ademir da Guia e Jorge Mendonça; Edu Bala, Toninho e Nei.

Samuel ainda jogou no Sport Recife e Noroeste (SP). Em 1980, quando estava sem clube, foi vítima de um acidente nas proximidades de Bauru, quando um caminhão chocou-se contra a traseira de seu automóvel, provocando, como seqüela, a perda do olho esquerdo. Acabava ali uma carreira digna de registro.