Ronaldo defende técnico estrangeiro na seleção brasileira e cita Abel Ferreira

Sempre comandado por treinadores brasileiros na seleção brasileira, o ex-atacante tem o entendimento de que o jejum de títulos em Copas que completará 24 anos no Mundial de 2026 abre o caminho para a CBF 'arriscar e inovar' na escolha do novo comandante

Ronaldo disse que o momento é propício para arriscar, inovar e trazer uma novidade para a seleção, e fez a avaliação de que existem poucos nomes brasileiros com capacidade para treinar a seleção

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Ronaldo defende técnico estrangeiro na seleção brasileira e cita Abel Ferreira

Campinas, SP, 12 – Ronaldo Fenômeno é mais um a defender a contratação de um técnico estrangeiro para suceder Tite no Brasil. Sempre comandado por treinadores brasileiros na seleção brasileira, o ex-atacante tem o entendimento de que o jejum de títulos em Copas que completará 24 anos no Mundial de 2026 abre o caminho para a CBF “arriscar e inovar” na escolha do novo comandante.

“Eu sou a favor de um nome estrangeiro. Não sustento o tabu de que o estangeiro não pode contribuir com o futebol brasileiro. Temos grandes exemplos no Brasil, inclusive o meu treinador no Cruzeiro é uruguaio (Paulo Pezzolano)”, argumentou Ronaldo em entrevista à imprensa no luxuoso hotel em que está hospedado em Doha, no Catar.

Ronaldo tem três gringos entre os seus preferidos, dois veteranos e um jovem treinador que tem feito muito sucesso no Palmeiras. “O (Carlo) Ancelotti, o Abel (Ferreira), do Palmeiras, o (José) Mourinho, da Roma”, mencionou. “Todos eles estão empregados, mas são nomes incríveis. Eu apoiaria esse tipo de decisão”. O italiano Ancelotti, hoje no Real Madrid, foi treinador de Ronaldo no Milan.

Ronaldo disse que o momento é “propício para arriscar, inovar e trazer uma novidade para a seleção”, e fez a avaliação de que existem poucos nomes brasileiros com capacidade para treinar a seleção. O seu favorito nessa pequena lista de profissionais nacionais é Fernando Diniz, do Fluminense.

“Tem grandes nomes internacionais na mesa, as opções brasileiras eu não vejo muitas. O Fernando Diniz é um dos brasileiros que mais me agrada nesse momento”.

A escolha do técnico da seleção brasileira sempre foi uma decisão pessoal de quem comandava a CBF, direta ou indiretamente. O presidente Ednaldo Rodrigues manterá essa tradição. Ele até admite a possibilidade de ouvir um ou outro conselho, mas a escolha será exclusivamente dele.

No fim da entrevista, o gestor do Cruzeiro e do Valladolid, da Espanha, foi desafiado a dizer um nome em específico que mais lhe agrada e que indicaria à CBF. Ele pensou por alguns segundos e evitou escolher uma só opção. “Eu sei onde vocês querem chegar”, brincou.

“Eu não posso dar essa opinião porque o processo de selecionar um treinador é muito complexo. Não depende só de uma escolha simples”, justificou, citando a sua dinâmica em relação à seleção de um técnico no Cruzeiro e no Valladolid. “Jogar os nomes é só especular por especular”.

O perfil buscado pela CBF é de alguém vencedor e que tenha identidade com o futebol nacional. O pragmatismo é bem-vindo, uma vez que conquistar a Copa do Mundo passou a ser uma obsessão. Afinal, se o Brasil falhar novamente na próxima, alcançará o maior jejum desde que conquistou o torneio pela primeira vez, em 1958. Mas o presidente Ednaldo Rodrigues também vai atrás de um técnico que saiba fazer a seleção jogar bonito e que encante o torcedor.

A ideia de romper com o paradigma de sempre ter técnicos brasileiros no comando da CBF e contratar um estrangeiro agrada Ednaldo, desde que esse profissional “tenha competência e realmente um envolvimento com aquilo que o futebol brasileiro necessita”, nas palavras do mandatário.

A procura já começou, mas o sucessor de Tite só será anunciado em janeiro de 2023. As informações de que “emissários” do dirigente haviam sondado o staff de Pep Guardiola e de alguns treinadores que atuam no País sempre foram negadas com veemência.

MALANDRAGEM
Artilheiro da Copa do Mundo de 2002, quando comandou a seleção na conquista do Penta, Ronaldo” voltou a dizer que a seleção brasileira foi eliminada por falta de malandragem. Na avaliação dele, o Brasil fez uma boa competição, “com poucos erros”, mas considerou que o time foi inocente demais na prorrogação diante da Croácia, pelas quartas de final.

“Diretamente ao ponto do que eu acho que foi decisivo para a gente ser desclassificado: faltou aquela malandragem que é nossa característica também. Não é só uma característica de argentino, de catimba. Nós temos muitas características positivas, o nosso talento, o drible, a nossa ousadia, a nossa alegria, mas também é característica nossa a malandragem ‘positiva’, de você segurar o jogo que já está decidido”, apontou o ex-jogador, que concedeu entrevista coletiva em Doha.

“A gente está acompanhando esta Copa e a gente vê o quão difícil é fazer um gol. Uma vez que você faz um gol dentro de uma prorrogação, faltando cinco minutos para acabar, este jogo tem que estar acabado. De alguma maneira a seleção brasileira tinha que ter essa malandragem, segurar a bola, talvez não arriscar tanto na frente, fazer com que nada acontecesse daquele jogo. Já tinha conseguido isso durante a maior parte do jogo, a Croácia só fez um chute a gol e foi esse que desviou no Marquinhos e acabou entrando”, considerou Ronaldo.

Na avaliação do atacante, que disputou quatro Copas do Mundo, o trabalho no geral foi bem feito. “Tenho que ser justo com o cenário inteiro, e devo admitir que toda a gestão logística da CBF foi extremamente positiva. Os jogadores tiveram a privacidade que precisavam, e ao mesmo tempo teve o tempo de atender a imprensa, teve o tempo de estar próximo à família. Nesse sentido, a CBF atuou muito bem ao longo de toda a competição”, avaliou.

“A seleção brasileira teve muita coisa positiva que a gente vai reaproveitar mais pra frente, com certeza. Jovens talentosíssimos e mais experientes que atuaram superbem também”, acrescentou Ronaldo. “Tivemos muita coisa boa, muito legado bom nesta Copa, e por um pequeno detalhe, que eu chamaria dessa malandragem do futebol, essa catimba que faltou especialmente depois de fazer o gol na prorrogação (o Brasil foi eliminado). Aí o jogo já deveria começar a diminuir o ritmo, manter a posse da bola. O time da Croácia já estava cansado, a seleção também. A gente aprende isso muito cedo, nas categorias de base, sobre como esfriar o jogo, manter a posse de bola. Com a qualidade da nossa seleção seria muito mais fácil. Aí foi exatamente onde nós pecamos.”

PÊNALTIS
Para o ex-atacante, a ordem dos cobradores nas penalidades máximas não deve ser motivo de críticas. O batedor oficial da seleção foi escalado por último e nem sequer teve chances de bater a gol. Rodrygo, de apenas 21 anos, abriu a série e errou.

“Não concordo com nenhuma das teorias sobre a escalação na disputa de pênaltis. Nas sequência de disputa de pênaltis é extremamente delicado chegar para o jogador e mostrar que você não tem confiança nele, pedindo que outro assumisse seu lugar. Isso não existe no futebol num grupo onde todos têm plena confiança no treinador e da nação”, apontou Ronaldo. “Você chegar e pedir para trocar é um grande absurdo, e quem sustenta esta teoria pra mim não entende a dinâmica de um grupo”

Em termos gerais, o ex-atacante se disse satisfeito com o desempenho do Brasil na Copa do Mundo. “Eu gostei. Acho que o Tite cometeu alguns erros durante a competição, pequenos erros. Gostei muito de quando o Brasil era bem ousado, na estreia, e quando a gente tinha essa ousadia de ir atacar, mas tendo o equilíbrio também na hora de defender. O Brasil sofreu muito pouco nesta competição”, declarou.

“Não tenho uma crítica mais elaborada por algum setor do time… Talvez eu senti falta de laterais que pudessem avançar mais, acho que o Danilo ficou sobrecarregado na esquerda, ficou torto. Cumpriu muito bem a parte defensiva, mas a seleção brasileira historicamente teve laterais que cumpriam muito bem essa função defensiva, mas se apresentavam na frente”, avaliou.

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