Relembre o dia em que o “Pelé da Jamaica” defendeu as cores do Náutico

Allan Cole, ídolo jamaicano e amigo de Bob Marley, viveu passagem marcante no Náutico nos anos 70, deixando história no futebol pernambucano.

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Ídolo jamaicano e parceiro de Bob Marley, Allan Cole virou símbolo do Náutico nos anos 70. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Recife, PE, 23, (AFI) – O futebol brasileiro já recebeu craques de todos os cantos do mundo, mas poucos carregaram uma história tão curiosa e simbólica quanto Allan Cole. Conhecido como o “Pelé da Jamaica”, ele desembarcou no Recife em 1971 para defender o Náutico e rapidamente se transformou em uma figura folclórica, tanto pela habilidade dentro de campo quanto pelo carisma fora dele.

Mais do que jogador, Cole era uma referência cultural em seu país e, anos depois, ficaria mundialmente conhecido por ser amigo íntimo e parceiro de composições de Bob Marley. No entanto, antes de brilhar no reggae, ele escreveu capítulos inesquecíveis no futebol pernambucano.

A DESCOBERTA E A CHEGADA AO RECIFE

A passagem de Cole pelo Náutico começou de forma improvável. Durante uma excursão do Timbu ao Caribe, dirigentes ficaram impressionados com o atacante jamaicano do Santos de Kingston. Habilidoso, veloz e com presença de área, ele chamava atenção pelo estilo irreverente e foi convidado a integrar o elenco alvirrubro.

Em 1971, Allan Cole desembarcava no Recife como uma espécie de aposta ousada do clube. À época, o Náutico buscava nomes capazes de devolver a equipe ao protagonismo no Campeonato Pernambucano, dominado por Sport e Santa Cruz.

ESTREIA COM GOL E ALCANCE POPULAR

Sua estreia foi em um clássico contra o Sport, nos Aflitos. Cole balançou as redes e saiu carregado nos ombros pela torcida. O gol foi suficiente para transformá-lo em sensação imediata. Nas ruas do Recife, seu estilo marcante, a cabeleira black power e o jeito descontraído de se comunicar chamavam atenção.

Torcedores passaram a procurar o jamaicano para autógrafos e fotos. Ele, por sua vez, respondia com simpatia e se tornou um dos jogadores mais populares da cidade em pouco tempo. Mesmo sem títulos expressivos, virou bandeira da torcida alvirrubra, que até hoje lembra de sua passagem com carinho.

POLÊMICAS E PERSONALIDADE

Allan Cole também ficou marcado pelas polêmicas. Em campo, tinha lampejos de genialidade, mas era irregular. Fora dele, vivia intensamente o Recife dos anos 70. Frequentava bares, festas e se aproximava das comunidades jamaicanas que encontrava no Brasil.

Em entrevistas posteriores, dirigentes lembraram que Cole tinha personalidade forte e, muitas vezes, escapava do perfil disciplinado exigido no futebol brasileiro da época. Ainda assim, era respeitado por companheiros e idolatrado por parte da torcida, que via nele algo diferente do jogador comum: uma estrela.

ENTRE A BOLA E O REGGAE

O destino de Cole não se limitou aos gramados. De volta à Jamaica, ele retomou sua carreira musical ao lado do grande amigo Bob Marley. Juntos, assinaram composições como War e Natty Dread, clássicos que atravessaram gerações. Cole também atuou como empresário e manager da banda The Wailers, reforçando o elo entre futebol e reggae.

Essa dualidade — craque de bola e nome da música jamaicana — ajudou a construir sua aura de lenda. No Recife, porém, sempre será lembrado como o “Pelé da Jamaica” que, por alguns meses, vestiu a camisa do Náutico e se tornou parte da história do clube.

LEGADO E MEMÓRIA

A passagem de Allan Cole pelo Náutico durou pouco, mas o suficiente para marcar época. Símbolo de identidade, representou um elo cultural inusitado entre Recife e Kingston. Mais de 50 anos depois, sua história ainda é contada como exemplo da riqueza do futebol pernambucano, que recebeu um personagem inesquecível e universal.

Nos Aflitos, sua imagem segue viva entre os torcedores mais antigos, que recordam não só os gols e dribles, mas também a aura de estrela que transformou o jamaicano em mito.

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