Estádio Moisés Lucarelli, casa da Ponte Preta - Foto: Júlio César Costa / Especial PontePress
Campinas, SP, 18 (AFI) – A dois meses das eleições para a renovação da diretoria executiva da Ponte Preta, a direção abriu o jogo e colocou as cartas na mesa. Passou a limpo uma história que todo pontepretano tem muita curiosidade de conhecer: as dívidas que atrapalham o dia a dia do futebol, que chegam a atrasos salariais de três meses.
É uma tentativa de explicar como nos últimos 20 anos, a dívida da Macaca passou de R$ 6 milhões para um valor estimado de R$ 450 milhões. São muitos detalhes escondidos na ‘Caixa Preta’ do Majestoso. __________
CRISE FINANCEIRA DESAFIA A BRIGA PELO ACESSO NA SÉRIE C
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As explicações foram prestadas pela advogada Talita Garcez, que tenta ‘administrar’ esta verdadeira massa falida.
DÍVIDA ALTA
De acordo com a advogada Talita Garcez, responsável pelo departamento jurídico do clube, o passivo total da Macaca pode chegar a R$ 450 milhões. Desse montante, cerca de R$ 50 milhões estão em ações trabalhistas, enquanto os processos cíveis somam mais de R$ 100 milhões.
Sérgio Carnielli (em 2011) cobra empréstimos à Ponte Preta e penhora Majestoso
Além disso, existe um processo movido pelo ex-presidente Sérgio Carnielli, que cobra aproximadamente R$ 85 milhões em empréstimos feitos ao clube entre 2012 e 2021, valor que levou à penhora do Estádio Moisés Lucarelli em 2022.
“A Ponte está caminhando para uma reorganização financeira e dos processos das dívidas. O planejamento feito para evitar novos bloqueios é um passo importante. Estamos trabalhando em um projeto para sanar as dívidas e buscar receitas alternativas”, explicou Talita.
RECONSTRUÇÃO DA PONTE PRETA
O presidente Marco Antônio Eberlin e sua diretoria trabalham para manter o clube de pé em meio às atuais dificuldades. Entre as estratégias, estão a busca por investidores, adiantamento de cotas de TV e novos patrocínios, além da tentativa de centralizar execuções judiciais em um único processo, o chamado Regime de Centralização de Execuções (RCE).
No âmbito esportivo, a Ponte fechou acordo com a CNRD em setembro de 2024 para quitar R$ 18 milhões em dívidas relacionadas a jogadores, técnicos, intermediários e clubes ao longo de dez anos. Porém, a punição de transfer ban segue em vigor desde julho, devido ao não cumprimento de parte desse acordo.
Neste acordo existem quase 100 processos, com os seguintes valores básicos:
R$ 9,2 milhões – atletas e comissões técnicas anteriores; R$ 5,1 milhões com clubes, como Santos (R$ 1,4 milhão), Goiás (R850 mil) e Vasco (R$ 787 mil) R$ 3,7 milhões com intermediários (empresários)
Nos últimos três anos foram pagos R$ 15 milhões em dívidas. Entre os valores estão:
Ygor Vinhas – R$ 781 mil (2019-2022)
Camilo (2020-2021) – R$ 698 mil
Gilson Kleina – R$ 573 mil (processo da passagem entre 2021 e 2022)
Fábio Sanches – R$ 437 mil (2021-2023)
Roger – R$ 421 mil (processo da passagem entre 2019 e 2020)
O departamento jurídico agora trabalha no Regime de Centralização de Execuções Cíveis, para tentar unificar as ações em torno de R$ 100 milhões.
“A Ponte está caminhando para uma reorganização financeira. O planejamento é evitar novos bloqueios, porque sem receita tudo se torna mais difícil. Estamos trabalhando também em projetos futuros para tratar das questões tributárias”, ressaltou Talita.
Talita Garcez tenta ‘administrar’ massa falida da Ponte Preta. Foto: AAPP
BLOQUEIOS E TRANSFER BAN
Talita revelou que apenas em bloqueios de valores, o clube já perdeu mais de R$ 10 milhões.
“Temos valores que deixaram de entrar devido a processos que estavam em andamento. Estimamos que, nos últimos três anos, a Ponte já tenha desembolsado cerca de R$ 15 milhões em pagamentos de dívidas”, afirmou.
O cenário também gerou consequências esportivas. Desde o último mês de julho, a Ponte Preta sofre com transfer ban da CNRD por não conseguir cumprir parcelas de um acordo de R$ 18 milhões, destinado a quitar pendências com jogadores, técnicos, intermediários e clubes.
“Não há dúvidas de que o endividamento do passado, seja por empréstimos ou acordos mal administrados, gerou uma dívida gigante. Muitas ações trabalhistas de gestões anteriores ampliaram esse problema”, reforçou a advogada.
PRÓXIMO DESAFIO
A Ponte Preta vive um contraste marcante em 2025. Dentro de campo, o time lidera o quadrangular final da Série C do Campeonato Brasileiro com 100% de aproveitamento e sonha com o retorno à Série B.
O próximo desafio da Macaca será contra o Náutico, no sábado (20), às 17h, em Recife. Fora de campo, a diretoria trabalha para alinhar pagamentos ainda em setembro, buscando aliviar a pressão financeira e manter vivo o sonho do acesso.