Ponte Preta: O Raio X da 'Caixa Preta' do Majestoso

De acordo com a advogada Talita Garcez, responsável pelo departamento jurídico do clube, o passivo total da Macaca pode chegar a R$ 450 milhões

O presidente Marco Antônio Eberlin e sua diretoria trabalham para manter a Ponte de pé em meio às dificuldades

Ponte preta raio x da caixa preta
Estádio Moisés Lucarelli, casa da Ponte Preta - Foto: Júlio César Costa / Especial PontePress

Campinas, SP, 18 (AFI) – A dois meses das eleições para a renovação da diretoria executiva da Ponte Preta, a direção abriu o jogo e colocou as cartas na mesa. Passou a limpo uma história que todo pontepretano tem muita curiosidade de conhecer: as dívidas que atrapalham o dia a dia do futebol, que chegam a atrasos salariais de três meses.

É uma tentativa de explicar como nos últimos 20 anos, a dívida da Macaca passou de R$ 6 milhões para um valor estimado de R$ 450 milhões. São muitos detalhes escondidos na ‘Caixa Preta’ do Majestoso.
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CRISE FINANCEIRA DESAFIA A
BRIGA PELO ACESSO NA SÉRIE C

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As explicações foram prestadas pela advogada Talita Garcez, que tenta ‘administrar’ esta verdadeira massa falida.

DÍVIDA ALTA

De acordo com a advogada Talita Garcez, responsável pelo departamento jurídico do clube, o passivo total da Macaca pode chegar a R$ 450 milhões. Desse montante, cerca de R$ 50 milhões estão em ações trabalhistas, enquanto os processos cíveis somam mais de R$ 100 milhões.

Ponte Preta
Sérgio Carnielli (em 2011) cobra empréstimos
à Ponte Preta e penhora Majestoso

Além disso, existe um processo movido pelo ex-presidente Sérgio Carnielli, que cobra aproximadamente R$ 85 milhões em empréstimos feitos ao clube entre 2012 e 2021, valor que levou à penhora do Estádio Moisés Lucarelli em 2022.

“A Ponte está caminhando para uma reorganização financeira e dos processos das dívidas. O planejamento feito para evitar novos bloqueios é um passo importante. Estamos trabalhando em um projeto para sanar as dívidas e buscar receitas alternativas”, explicou Talita.

RECONSTRUÇÃO DA PONTE PRETA

O presidente Marco Antônio Eberlin e sua diretoria trabalham para manter o clube de pé em meio às atuais dificuldades. Entre as estratégias, estão a busca por investidores, adiantamento de cotas de TV e novos patrocínios, além da tentativa de centralizar execuções judiciais em um único processo, o chamado Regime de Centralização de Execuções (RCE).

No âmbito esportivo, a Ponte fechou acordo com a CNRD em setembro de 2024 para quitar R$ 18 milhões em dívidas relacionadas a jogadores, técnicos, intermediários e clubes ao longo de dez anos. Porém, a punição de transfer ban segue em vigor desde julho, devido ao não cumprimento de parte desse acordo.

Neste acordo existem quase 100 processos, com os seguintes valores básicos:

R$ 9,2 milhões – atletas e comissões técnicas anteriores;
R$ 5,1 milhões com clubes, como Santos (R$ 1,4 milhão), Goiás (R850 mil) e Vasco (R$ 787 mil)
R$ 3,7 milhões com intermediários (empresários)

Nos últimos três anos foram pagos R$ 15 milhões em dívidas. Entre os valores estão:

  • Ygor Vinhas – R$ 781 mil (2019-2022)
  • Camilo (2020-2021) – R$ 698 mil
  • Gilson Kleina – R$ 573 mil (processo da passagem entre 2021 e 2022)
  • Fábio Sanches – R$ 437 mil (2021-2023)
  • Roger – R$ 421 mil (processo da passagem entre 2019 e 2020)

O departamento jurídico agora trabalha no Regime de Centralização de Execuções Cíveis, para tentar unificar as ações em torno de R$ 100 milhões.

“A Ponte está caminhando para uma reorganização financeira. O planejamento é evitar novos bloqueios, porque sem receita tudo se torna mais difícil. Estamos trabalhando também em projetos futuros para tratar das questões tributárias”, ressaltou Talita.

Ponte Preta - 2025
Talita Garcez tenta ‘administrar’ massa falida da Ponte Preta.
Foto: AAPP

BLOQUEIOS E TRANSFER BAN

Talita revelou que apenas em bloqueios de valores, o clube já perdeu mais de R$ 10 milhões.

“Temos valores que deixaram de entrar devido a processos que estavam em andamento. Estimamos que, nos últimos três anos, a Ponte já tenha desembolsado cerca de R$ 15 milhões em pagamentos de dívidas”, afirmou.

O cenário também gerou consequências esportivas. Desde o último mês de julho, a Ponte Preta sofre com transfer ban da CNRD por não conseguir cumprir parcelas de um acordo de R$ 18 milhões, destinado a quitar pendências com jogadores, técnicos, intermediários e clubes.

“Não há dúvidas de que o endividamento do passado, seja por empréstimos ou acordos mal administrados, gerou uma dívida gigante. Muitas ações trabalhistas de gestões anteriores ampliaram esse problema”, reforçou a advogada.

PRÓXIMO DESAFIO

A Ponte Preta vive um contraste marcante em 2025. Dentro de campo, o time lidera o quadrangular final da Série C do Campeonato Brasileiro com 100% de aproveitamento e sonha com o retorno à Série B.

O próximo desafio da Macaca será contra o Náutico, no sábado (20), às 17h, em Recife. Fora de campo, a diretoria trabalha para alinhar pagamentos ainda em setembro, buscando aliviar a pressão financeira e manter vivo o sonho do acesso.

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