FPF traz formato da Champions ao Paulistão e mira ajustes para minimizar erros

Inspirado na Champions League, o novo formato do Paulistão 2026 promete inovação, mas pode enfrentar os mesmos desafios de competitividade e clareza que afetaram o torneio europeu.

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Novo modelo do estadual paulista mira modernidade, mas traz riscos já vistos na Europa. (Reprodução/FPF)

São Paulo, SP, 12 (AFI) – Em adaptação ao novo calendário da CBF, que reduziu os estaduais para 2026, o Paulistão ganhou cara nova. A Federação Paulista de Futebol (FPF) apresentou nesta terça-feira, na Mercado Livre Arena Pacaembu, um modelo de disputa inédito, inspirado diretamente na Champions League.

A entidade promete um campeonato “mais dinâmico e atrativo”, com fase inicial entre potes e mata-mata em jogo único. Mas, à medida que o formato se aproxima da liga europeia, especialistas e torcedores levantam uma questão inevitável: será que o Paulistão 2026 pode repetir os mesmos erros que marcaram a Champions em seu novo formato?

1. O RISCO DE PERDER COMPETITIVIDADE

Um dos principais pontos de crítica ao modelo europeu foi o desequilíbrio entre potes. Na Champions, goleadas históricas nas primeiras rodadas — como Bayern 9×2 Dinamo Zagreb ou Dortmund 7×1 Celtic — expuseram a disparidade técnica entre clubes grandes e médios.

O novo Paulistão, com os quatro grandes concentrados no Pote A (Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos), corre o mesmo risco. Mesmo enfrentando times dos outros potes, as diferenças de orçamento e elenco podem transformar parte da fase inicial em jogos protocolares, sem competitividade real.

No caso europeu, os dados mostraram aumento no número de goleadas e queda no número de partidas equilibradas. Em São Paulo, a estrutura de potes também pode reduzir a imprevisibilidade, uma das marcas históricas do estadual.

2. DERROTAS QUE NÃO PESAM — E JOGOS QUE POUCO IMPORTAM

Outro problema observado na Champions foi a perda de peso das derrotas. Com mais jogos e um sistema de pontuação amplo, clubes tradicionais começaram a encarar os tropeços iniciais com certa tranquilidade — o que reduziu o senso de urgência e a emoção nas primeiras rodadas.

No Paulistão 2026, com oito partidas na fase inicial e mata-mata definido por uma tabela geral, a tendência é parecida. Um grande pode tropeçar duas vezes e ainda avançar sem grandes sustos, enquanto clubes do interior terão margem mínima de erro.

Esse efeito “almofadado” — em que a derrota não cobra preço imediato — é perigoso para o engajamento do torcedor. Ao contrário do formato tradicional, em que cada ponto valia a sobrevivência, o novo modelo pode fazer jogos perderem valor narrativo, especialmente na metade da competição.

3. A CONFUSÃO DO FORMATO E A PERDA DE IDENTIDADE

A Champions também sofreu críticas por sua complexidade. O sistema de potes e a ausência de confrontos de ida e volta deixaram torcedores confusos sobre quem realmente competia com quem na classificação geral.

O Paulistão 2026 segue a mesma trilha: serão oito jogos misturados entre potes, e as oito melhores campanhas avançam às quartas. É possível que equipes com trajetórias muito diferentes terminem lado a lado, sem terem se enfrentado — algo que pode gerar sensação de injustiça e dificultar a leitura da tabela pelo público.

Além disso, o fim dos confrontos de ida e volta na fase inicial elimina o elemento clássico da revanche — aquele tempero que fazia parte da cultura do estadual. Em nome da inovação, o campeonato pode se afastar de uma tradição emocionalmente forte, que sempre conectou o torcedor ao formato.

4. UMA MUDANÇA QUE PRECISA CONQUISTAR O TORCEDOR

A FPF tenta vender o novo Paulistão como um torneio moderno, mais curto e adaptado ao calendário nacional. Mas, assim como na Europa, o sucesso da ideia depende da aceitação do público.

Ligas que mudam radicalmente seu formato costumam enfrentar resistência inicial — e, às vezes, permanente. A Champions ainda tenta convencer os torcedores de que o novo modelo é mais justo e empolgante. No Brasil, onde os estaduais são parte da cultura e da identidade das cidades, essa ruptura pode ser ainda mais sensível.

Se, por um lado, o novo Paulistão promete dinamismo e inovação, por outro traz o desafio de preservar a essência que o torcedor paulista aprendeu a amar: a rivalidade regional, o drama das últimas rodadas e a imprevisibilidade que sempre fez o estadual ser mais do que um simples torneio — um retrato do futebol do estado.

Conclusão:

O Paulistão 2026 aposta alto ao seguir o modelo europeu. Mas, ao mirar a Champions, pode acabar herdando também suas falhas estruturais: desequilíbrio, confusão e distanciamento emocional. Resta saber se o estadual mais tradicional do país conseguirá equilibrar modernidade e identidade — sem deixar o torcedor perder o fio da paixão que o move.

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