O Velho do Restelo, o pessimildo, os panglossianos e a nossa crise

Temos nossa versão do Velho do Restelo: o Pessimildo, aquele que não acredita em nada e discorda de tudo.

No contraponto temos os panglossianos, aqueles que acreditam em tudo, principalmente ex-anão, papai noel e cegonha

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O Velho do Restelo é um personagem central em vários livros sobre a história de Portugal. Era um senhor que todos os dias ia assistir à partida das caravelas que saiam do porto em missão de descobrimentos. Foi assim que os portugueses descobriram, por sua experiência e bravura, novos mundos. E sem se importarem com o mau-agouro do Velho do Restelo. Ele sempre dizia que a viagem não daria certo.

Velho do Restelo é um personagem criado por Luís de Camões no canto IV da sua obra Os Lusíadas. O Velho do Restelo simboliza os pessimistas, os conservadores e os reacionários que não acreditavam no sucesso da epopeia dos Descobrimentos Portugueses

Velho do Restelo é um personagem criado por Luís de Camões no canto IV da sua obra Os Lusíadas. O Velho do Restelo simboliza os pessimistas, os conservadores e os reacionários que não acreditavam no sucesso da epopeia dos Descobrimentos Portugueses

O futebol tem também seus velhos do Restelo. Isto para contrabalançar com aqueles que, ao surgir uma ideia, um projeto ou coisa que o valha, abraçam a causa sem examinar todas as questões. Por isso, erramos muito em apoiar propostas de arrivistas e magos de finanças.

Temos nossa versão do Velho do Restelo: o Pessimildo, aquele que não acredita em nada e discorda de tudo. No contraponto temos os panglossianos, aqueles que acreditam em tudo, principalmente ex-anão, papai noel e cegonha. Mas outro personagem não pode ficar de fora: o beócio, aquele ignorante de sempre que nunca se dá por vencido.

No dia a dia da bola, esses personagens marcam presença e a discussão sobre problemas do futebol acabam virando um eterno Fla-Flu.

O PROBLEMA É GESTÃO
A turma que acha que a solução está na adaptação do nosso calendário ao futebol europeu é forte. A questão não é de calendário e sim de uma gestão mais séria e competente. E na medida em que todo mundo apoiou a Lei Pelé como se fosse a redenção do futebol, o que surgiu foi uma tremenda lavanderia, onde cartolas são estependiados por empresários; e a formação de jogadores está comprometida porque os clubes não investem mais.

A realidade é que não temos boas safras de jogadores. A última grande safra foi a de 2002 quando ganhamos a última copa. De lá pra cá, não aconteceu mais. Isso não é pessimismo, mas sim a realidade.

A questão do excesso de jogos é discutível. Poucos são aqueles profissionais que jogam mais de 60 partidas por ano. E aí inventam essa história de poupar jogadores. O que existe, realmente, são jogadores-chinelinhos. Aqueles que não treinam na terça-feira e viram habituês no DM.

TV COMPROU A ALMA
Outra questão, que extrapola o calendário, é a grade de televisão. O futebol vendeu a alma à TV e esta, por sua vez, desenha sua grade de acordo com sua audiência. Hoje, como os ibopes são ruins, o dono do contrato de TV pensa em reduzir os valores pagos porque o futebol perdeu seu encanto.

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O gozado é que o pessoal mete o pau em quem promove os campeonatos e não dizem um pingo sobre o uso exagerado do futebol na televisão. Claro que quem paga a conta determina a tabela de jogos, mas, ultimamente, estão exagerando.

Os que apoiam isso, mais a Lei Pelé, adaptação de calendário ao europeu, são os panglossianos. Se isso for feito teremos o melhor futebol do mundo outra vez?

Os beócios, por absoluto desconhecimento, acham que basta mandar técnico embora e o time vai ser campeão.

E existem aqueles que defendem o profissionalismo total nos clubes. Basta remunerar todo mundo, contratar um homem de marketing e está salva a lavoura. Não é bem assim.

SALÁRIOS ABSURDOS
Se fizerem um levantamento das folhas de pagamentos vão concluir que tem muita gente ganhando bem e sem retorno positivo dos contratados. As Comissões Técnicas têm gente demais e nem por isso os times estão melhorando sua produtividade dentro do campo. Já tivemos Comissões que custavam quase 5 milhões mensais, se considerarmos todos os encargos.

E essa história, adorada pelos panglossianos, de profissionalismo geral e total, gera distorções, antes mesmo de sua implantação. Por exemplo, o Palmeiras que tem um diretor de finanças que leva um salário gordo para casa – 47 mil reais.

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O futebol precisa, isto sim, de uma gestão séria, sem penduricalhos, salários justos e o fim dessa gastança desenfreada.

As teses pregadas por panglossianos, mesmo aplicadas, dariam o retorno esperado? Os exageros existem, os clubes estão em vermelho, e a perspectiva para 2016, com a recessão brava que anda por aí, não será fácil pra ninguém.

A construção de estádios, para a Copa das Copas, deixou um legado terrível. Não temos como manter esses elefantes brancos superfaturados e com uma manutenção altamente custosa. A culpa é de quem? Do Velho do Restelo, dos pessimildos, beócios, polianas, etc. Vamos parar com esse Fla-Flu idiota que não leva a nada. É melhor uma autocrítica geral porque o nosso mercado de trabalho está indo para o saco. Sejamos realistas, ok?