O que fazer para 'ressuscitar' o driblador?

Com esta postura defensivista, o Ituano conseguiu definir o vencedor do jogo contra o Corinthians através das cobranças de pênaltis. Se deu bem.

E a planificação foi cumprida à risca pelo time de Itu, que assim chegou à semifinal do Paulistão. Refletiu com fidelidade o cenário defensivista

Driblador
Ituano: prêmio à retranca. Foto: Paulo Pinto - IFC

Campinas, SP, 13 (AFI) – Na atual configuração do futebol brasileiro, o clube teoricamente mais fraco se estrutura atrás da linha da bola, e por vezes coloca em prática aquela indisfarçável retranca dos tempos do saudoso treinador Milton Buzetto do Juventus, nos anos 70.

O segundo tempo do Ituano, domingo passado, no empate com o Corinthians no tempo normal, refletiu com fidelidade essa postura defensivista, e assim conseguiu transferir a definição do vencedor daquele jogo através das cobranças de pênaltis. E a planificação foi cumprida à risca pelo time de Itu, que assim chegou à semifinal do Paulistão.

Ituano
Ituano jogou retrancado e levou vaga nos pênaltis. Foto: Paulo Pinto – IFC

CABECEADOR

Outrora, quando o time ‘retranqueiro’ amontoava os seus jogadores no interior de sua área, para rechaçar bola cruzada, dizia-se que o santo remédio contra aquele mal seria o adversário levá-la bem ao fundo de campo, e dali surgir o cruzamento para o cabeceador.

Treinadorzada repetia exaustivamente o bordão que ‘sopa quente se come pela beirada’, numa alusão que o caminho para suplantar retrancas seria fundo de campo e cruzamentos.

Como hoje nem sempre essa alternativa é bem-sucedida, questiona-se o que fazer?

DRIBLADOR

Infelizmente o futebol brasileiro perdeu muito de sua essência quando tornou-se escasso o driblador.

Por favor, não confundam o driblador com aquele cara que alonga a bola, parte na velocidade, e, de vez em quando, dá um corte por dentro e seja o que Deus quiser.

Driblador é aquele cuja bola parece grudada aos pés, que no balanço faz zigue-zague em curto espaço do campo, e assim ‘quebra’ a marcação.

Logo, aparece o espaço para continuidade da jogada, e o talentoso vai saber definir a jogada com precisa finalização ou colocar parceiro na cara do gol.

E se nos dribles o atleta sofrer faltas nas proximidades da área adversária?

Ainda durante os treinamentos, que mandem o fisiologista pra cucuias quando ele quiser vetar ensaio específico de cobranças de faltas, com justificativa de evitar lesões.

DESAPARECIMENTO

E por que desapareceram aqueles terríveis dribladores, que via-se com frequência até as décadas de 80/90, como os atacantes João Paulo (Guarani), saudoso Dêner, Edilson Capetinha, Ronaldinho Gaúcho, entre tantos outros?

Sim, são outros tempos. Como os campinhos de bairros rarearam, o menino de hoje busca outras opções de divertimento. Apesar disso, convenhamos que escolinhas de futebol ainda estão aos montes espalhadas por aí.

MATADINHA

Rebusquemos relíquias do passado, no comportamento da molecada, sepultadas ao longo do tempo.

Lembram-se da chamada ‘matadinha’?

Pra quem não sabe, a prática consistia de tijolos no meio da rua, que representavam traves, com distância nada superior a dez metros de um ‘gol’ para o outro.

O joguinho, praticado por duas crianças ou adolescentes, tinha como regra chave um deles passar a bola para que o outro provocasse a ‘matada’ e, incontinenti, tentar o drible e assim se desvencilhar do obstáculo até marcar o gol, enquanto cabia ao adversário praticar o desarme e rumar em direção ao gol.

Quem era vazado ainda acabava penalizado a devolver a bola ao adversário, para que a jogada se repetisse.

A reprise contínua do drible ‘esmerilhava’ o garoto para o quesito, logo repetido em campinhos de dimensões reduzidas.

E aqueles já vocacionados àqueles estilo davam ‘show’ de bola quando trocavam a rua e campinhos pelo ‘campão’.

Infelizmente está descartada a ‘ressurreição’ daquele modelo fácil de se ‘fabricar’ dribladores.

Todavia, já que as escolinhas de futebol ainda recebem dezenas de garotos, por que não o surgimento de algumas que tenham como exclusividade a finalidade do drible?

NOS CLUBES

Já que projetaram comissões técnicas numerosas nos clubes, com comandante técnico, físico, fisiologistas e preparador de goleiros – todos com os seus respectivos auxiliares – por que não se ampliar mais uma função: profissional especialista em dribles, que possa ensinar os macetes aos discípulos, visando a arte de suplantar a marcação adversária?

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