Sim, o Gorilão aqui está chateado. Muito. Mas pode, sim, ser aporrinhado pelos amigos, colegas e ex-colegas que se divertem sacaneando os adversários em momentos de desgraça futebolística. Digo isso porque percebo nesta semana um certo silêncio obsequioso, solidário, quase de pena do torcedor da Macaca.

Ora meu amigo, pode aporrinhar! E sabe por quê? Porque já aprendi, após tantas frustrações, a não lembrar apenas a tristeza das finais perdidas, mas também das alegrias de momentos memoráveis.

Morrer na praia? Você nem imagina quantas vezes eu já vi. Olha só:

– 1960 – final da então Segunda Divisão contra a Prudentina no Pacaembu… perdemos o primeiro jogo, ganhamos o segundo… mas perdemos na prorrogação. Ah, 2 gols do maldito Ademar Pantera! Eu estava lá.

– 1964 – final da mesma Segunda Divisão contra a Portuguesa Santista, em Campinas. Majestoso lotado, festa total… mas perdemos. Um a zero, golaço do maldito Samarone. Eu estava lá.

– 1970 – Campeonato Paulista, pontos corridos, a Macaca termina em primeiro lugar no primeiro turno, no segundo disputa pau a pau até o fim com o poderoso São Paulo de Pedro Rocha, Gerson, Pablo Forlan e Toninho Guerreiro.

Aí acontece o jogo decisivo contra eles em um Morumbi lotado! Jogo duro, igual, até que o árbitro Arnaldo César Coelho deu pênalti contra a Ponte numa falta a um metro fora da área (pode isso @arnaldo?). Eu vi, porque estava lá.

– 1977 – Campeonato Paulista… bem, nem preciso contar o que houve naquela final há 40 anos, todo mundo sabe. E eu estava lá.

– 1979 – Outra final contra o Corinthians, outra derrota, desta vez sem problemas. Ou melhor, o problema se chamava Sócrates. E eu estava lá.

– 1981 – Final do Campeonato Paulista contra o São Paulo, outra desgraça. Eu estava lá.

– 2008 – Final do Campeonato Paulista, desta vez contra o Palmeiras. Perdemos o primeiro jogo no Majestoso, depois fomos massacrados no velho Parque Antártica. Eu estava lá (saí antes do jogo terminar, morto de vergonha).

– 2013 – Primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana no Pacaembu contra o Lanús, da Argentina. Só empatamos, eu estava lá. (Depois perdemos e fomos vice-campeões novamente.)

– 2017 – vi o inacreditável primeiro jogo, e vou ver o segundo.

É, meu amigo, minha Macaca nunca foi campeã como se deve, vencendo uma final que nos permitisse sair dançando nas ruas e gritando “É campeã!!”

Dureza. E ainda por cima vivem me dizendo que a Internacional de Limeira foi campeã paulista! O Bragantino também! E o São Caetano! A Portuguesa de Desportos, o Ituano! Até o time lá de baixo foi campeão brasileiro em 1978!

Verdade também. E então eu pergunto: e daí?

Onde estão e o que são hoje Inter de Limeira, Bragantino, São Caetano, Ituano, Portuguesa, Guarani? Os que ainda existem, sem dinheiro e sem time que preste, lutam nas séries inferiores para não desaparecer.

Onde está e o que é hoje a minha Macaca, a eterna vice-campeã?

Mesmo lutando contra o poder econômico das redes de tevê e da CBF (que privilegiam com muito dinheiro os clubes de sempre, que assim montam contra nós times milionários), ela se consolida como a quinta força do futebol paulista, está na série A entre os melhores do futebol brasileiro, e melhora a cada ano.

Perdeu finais, sim! Mas antes de cada final me deu grandes alegrias – e é isso que me vale mais! Ah, lembrem comigo! Que delícia foi ver a Macaca, naquele campeonato de 77, bater os grandes com categoria e superioridade. Lembram quando enfiamos 4 a 0 no mesmo Corinthians que depois armaria aquela final vergonhosa?

E que glória em 2013 ir a Buenos Aires e eliminar lá o todo poderoso campeão argentino Velez Sarsfield! E logo em seguida eliminar o todo poderoso São Paulo no Morumbi! Ah, não tem preço…

E agora, que maravilha foi eliminar o Santos no Pacaembu! Melhor ainda, ensacar e eliminar o milionário campeão brasileiro e todo-poderoso Palmeiras com aquela arrasadora vitória por 3 a 0. Não tem preço!

Minha Macaca é assim, não me deixa gritar “sou campeão!!” Que merda… Mas também me dá tanta alegria! O gorila está chateado, sim. Mas amanhã vamos sorrir de novo quando ele urrar e bater no peito, como quem diz:

“Que venham!”

E é por isso que eu canto agora o samba de Vanzolini, aquele que diz assim:

“Ali onde eu chorei, qualquer um chorava. Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava!”

O gorilão tá chateado, mas vai dar a volta por cima. Como sempre.

Inspirado no meu Amigo Oculto
ROBERTO GINEFRA