Mulheres que no passado souberam virar o jogo e conquistar os brasileiros

Sucesso do passado pode inspirar campanha desta nova geração em solo francês

Que o exemplo de superação da Seleção Olímpica de 96 possam inspirar as nossas meninas na França, recuperanso o prestigio e respeito da Nossa Seleção Feminina no Mundo do Futebol

0002050393375 img

Em tempos que as estatísticas recentes não encontram paralelo em nenhum outro período da história, com a nossa Seleção Feminina principal acumulando dez derrotas nas ultimas onze partidas disputadas, vale resgatar uma história que abriu caminhos e oportunidades para as mulheres no futebol.

Após uma campanha perfeita no Sul-Americano de Uberlândia, com recordes de público e audiência na TV, a nossa Seleção teve uma participação traumática no Mundial da Suécia em 1995, sendo eliminada ainda na primeira fase ao sofrer uma goleada por 6 X 1 diante da Alemanha. Sob olhares desconfiados, e enfrentando um preconceito que era mais regra do que exceção, estas meninas assombraram o mundo em pouco mais de oito meses de trabalho do saudoso técnico José Duarte.

SALVOU A PÁTRIA

Romeu de Castro, Cidinho e Zé Duarte na Seleção Brasileira Feminina - Divulgação Saad

Romeu de Castro, Cidinho e Zé Duarte na Seleção Brasileira Feminina

Contratado pela parceria CBF/Sport Promotion para conduzir as nossas meninas rumo à primeira participação olímpica da modalidade, que ocorreria em 1996 nos jogos de Atlanta, ele foi o maestro dessas meninas. Como diretor da Seleção figurava o desportista Romeu Carvalho de Castro, que aos 27 anos assumia o comando amparado pelos anos de dedicação frente ao Guarani de Campinas e ao Saad EC.

Coube ao jovem gestor, que militava no apoio ao futebol feminino desde os 15 anos de idade, convencer o consagrado treinador de Fluminense, Santos, Guarani e Ponte Preta a dizer sim ao Futebol Feminino, já que profissionais igualmente consagrados no futebol masculino descartaram diversas consultas preliminares da CBF.

Zé Duarte agiu diferente, acreditando na paixão com que Romeu apresentou o projeto, e no imenso potencial que encontrou em jogadoras como Meg, Sissi, Leda Maria, Pretinha, Elsi, Valéria, Bel, Soró, Formiga, Kátia Cilene, Roseli, Tânia Maranhão, Fanta, Susy, Marisa, Didi, Nenê, Nildinha, Michael Jackson e Sônia, dentre outras.

EXPERIÊNCIA FALOU MAIS ALTO
A experiência e carisma do veterano treinador, auxiliado por profissionais também consagrados, como o também treinador Cidinho Romano, o preparador físico Lino Fachinni Júnior, as supervisoras Ivete Galas e Dilma Mendes, além do preparador de goleiros Sérgio Gomes; conduziram a nossa Seleção a uma nova postura tática e física.

Menos de seis meses após as constrangedoras derrotas do Mundial de 95, o Brasil já se igualaria no placar em jogos diante da melhor geração da história do Futebol Feminino dos Estados Unidos, aquela dos tempos de Michele Akers, Mia Hamm, Brandi Chastain, e tantas outras estrelas.

Reunindo o melhor da nossa geração de jogadoras dos anos 80, e garimpando atletas do Acre ao Rio Grande do Sul, além de buscar no futsal a habilidade que tanto cativava o torcedor, a comissão técnica brasileira construiu a base que manteria o Brasil no “Top 4” do Mundo por quase duas décadas. E em Atlanta, as meninas foram muito além das previsões do analistas e cronistas especialistas.

SÓ FERAS DO FUTEBOL FEMININO MUNDIAL
Num grupo onde figuravam a então Campeã Mundial Noruega, Seleção Campeã da Ásia, representando o Japão, e a Alemanha, Campeã Europeia e carrascas do Brasil no Mundial; as nossas meninas não se abalaram, e obtiveram uma heroica classificação, atingindo a semifinal Olímpica logo na primeira participação. E eliminar a Alemanha teve um papel preponderante nesta história, totalmente pavimentada em trabalho e investimento.

Os treinos foram exaustivos, com resultados turbinados pelo alto investimento em avaliações médicas e fisiológicas, custeados pela Sport Promotion. As meninas abriram mão de feriados, convivência familiar e até relacionamentos. Valia a paixão pelo futebol e o orgulho em vestir a camisa da Seleção.

A sport Promotion também revolucionou a condição de vida das meninas, garantindo um piso salarial pela primeira vez na história para as meninas, com bônus para aquelas que se mantivessem como titulares. A sede da Seleção, bem distante da granja Comary, era o CT do Saad EC, localizado dentro de um luxuoso Condomínio em Indaiatuba, na região de Campinas.

Meninas que abriram o caminho para a atual geração do futebol feminino - Divulgação Saad

Meninas que abriram o caminho para a atual geração do futebol feminino

TRABALHO TAPOU A BOCA DE DIRIGENTES
Óbvio que guerra entre Rio e São Paulo pelo controle da seleção se acirrou, com diversos embates entre as diretorias do Saad e do Vasco. Foi o título brasileiro conquistado pelo Saad em 96 que calou os bastidores, e selou o caminho para a renovação do trabalho da Seleção. E os bons resultados que vieram em Atlanta trouxe novo impulso à vidas das novas estrelas, com altos salários, criação de novas ligas e uma grande quantidade de transmissões das partidas em TV aberta e fechada.

Em 98, o Brasil obteria a sua primeira vitória sobre os Estados Unidos, e o mercado internacional levaria as nossas principais craques para a Europa, Ásia e América do Norte. Que o exemplo de superação da Seleção Olímpica de 96, aliada a uma busca obstinada pela vitória, possam inspirar as nossas meninas na França, recuperando o prestigio e respeito da Nossa Seleção Feminina no Mundo do Futebol.