Jorge Sampaoli traz a batida do rock ao time do Santos e à Vila Belmiro

Aos 58 anos, esse careca baixinho deixou claro que muita coisa ainda dói

Jorge Sampaoli apresenta um estilo que não é muito comum entre os técnicos brasileiros: grandes tatuagens que prestam homenagem ao rock argentino de raiz

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Santos, SP, 19 – Jorge Sampaoli apresenta um estilo que não é muito comum entre os técnicos brasileiros: grandes tatuagens que prestam homenagem ao rock argentino de raiz. Apresentado oficialmente nesta terça-feira, em São Paulo, o novo técnico do Santos gosta tanto do antigo grupo de rock argentino Callejeros que mandou escrever no braço um dos versos mais famosos da banda extinta em 2010. “Não escuto e sigo porque muito do que é proibido me faz feliz”.

As tatuagens não são novas, mas dizem muito sobre o treinador que fala de um jeito uniforme, quase como uma linha reta, sem demonstrar emoções. No antebraço direito estão as frases: “Educar é combater. O silêncio não é meu idioma”.

Sampaoli chegou com quase uma hora de atraso ao Museu do Futebol, o que obrigou a diretoria do Santos a mudar o cronograma do evento. O atraso não diminuiu o tempo de entrevista. Falou por cerca de 45 minutos e, basicamente, mostrou que existe um alinhamento entre o que ele pensa sobre o futebol e o DNA ofensivo de que os santistas tanto se orgulham. Também citou Pelé e Neymar. Por isso, ele veio ao Brasil.

Nos livros que escreve, o técnico se revela mais. São volumes que percorrem em detalhes a trajetória do argentino nascido na pequena Casilda até o comando da seleção do Chile, o trabalho que o colocou na vitrine do mundo.

CONTENTE

O título “Las histórias de La U más exitosa de todos los tiempos” conta os bastidores do time, a Universidad de Chile, que levantou a inédita taça da Sul-Americana com atuações exuberantes. Apesar do sucesso, o treinador confessa que deixou muita coisa pelo caminho, como um matrimônio desfeito, em nome da paixão pelo futebol.

Jorge Sampaoli traz a batida do rock ao time do Santos e à Vila Belmiro

Jorge Sampaoli traz a batida do rock ao time do Santos e à Vila Belmiro

Aos 58 anos, esse careca baixinho deixou claro que muita coisa ainda dói. Não o casamento perdido, mas as derrotas. “As alegrias são passageiras. As tristezas são mais permanentes. Minha maior tristeza foi não ter conseguido um título para a seleção do meu país”, afirmou Jorge Luis Sampaoli Moya para uma plateia atenta de cerca de 50 jornalistas.

A Argentina sentiu a mesma dor. Na Copa do Mundo na Rússia, o time caiu nas oitavas de final para a França. A campanha medíocre esticou o jejum da seleção que mais se parece uma corda que estica sem parar. A última conquista foi a Copa América de 1993. Sampaoli se sentiu culpado e perdeu um pouco de sua aura de genial, criativo e revolucionário.

ÍDOLO

Todos esses adjetivos vieram do seu mentor: Marcelo Bielsa, hoje no Leeds United. No mesmo livro, ele fala com todas as letras sobre a admiração: “Eu me lembro que saía para correr e levava no walkman gravações das coletivas de Bielsa. Estava o dia todo com a cabeça no Bielsa”, confessou o argentino.

A contratação de Sampaoli resgatou um pouco do orgulho santista, que andava perto do meio-fio por causa das incertezas do ano que se aproxima. O time não tinha técnico (Cuca saiu para cuidar de problemas cardíacos) e o craque do time voltou para a Itália. O presidente José Carlos Peres anunciou o acerto antes mesmo de assinar o contrato. Pressa. Justificou a contratação dizendo que a vida precisa de ousadia. Ontem, ele estava todo sorridente e fez questão de dizer que negociou com o treinador em espanhol na semana passada.

De volta à estante, no livro mais recente, o treinador retoma o binômio rock e futebol. O vibrante “Mis latidos – Ideas sobre a cultura do jogo” resume a filosofia de trabalho e de vida do treinador que quase calou o Mineirão na Copa de 2014. O livro é dinâmico, nervoso, com frases curtas e aceleradas, como suas idas e voltas constantes na beirada do campo. Ou como uma letra de rock. O Santos vai continuar jogando para frente, mas em uma batida diferente.