História de torcedor solitário que se tornou presidente de clube vai virar filme

Trajetória inspirou produtoras a encabeçarem projeto

Tiago Rech, em 2012, foi flagrado pelas câmeras de TV como único torcedor do Santa Cruz-RS

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Foto: Arquivo Pessoal

Santa Cruz do Sul, RS, 06 – Luz, câmera, ação… gravando! A história de Tiago Rech, que em 2012 foi flagrado pelas câmeras de TV como único torcedor do Santa Cruz-RS na arquibancada do estádio Olímpico em um jogo do time com o Grêmio, está destinada a ganhar as telas de cinema. Paixão, adversidade, sofrimento, recomeço, resiliência e redenção são os elementos do roteiro.

A emblemática cena da comemoração solitária de um gol diante de quase sete mil gremistas, que teve mais de 200 mil visualizações no YouTube, correu o mundo e inspirou a Pé de Coelho Filmes, a Supernova Filmes e a Faksanto Entretenimento, produtoras da cidade de Santa Cruz do Sul, a encabeçar o projeto. O título, pelo menos por ora, é “O Torcedor Solitário”.

O ENREDO

O mote central da trama conta a sina do torcedor que, aos 28 anos, assume a presidência do clube. O preço pela falta de experiência administrativa é duro. Além de enfrentar uma depressão, o então mandatário precisa tirar dinheiro do bolso para arcar com as despesas. Quatro anos depois, com o time na terceira divisão, Tiago retorna ao poder contra a vontade da família e o desfecho não poderia ser mais cinematográfico: volta por cima da equipe e os primeiros troféus da história do Santa Cruz.

As primeiras gravações já foram feitas. O personagem principal da trama foi levado de volta ao estádio Olímpico uma década depois daquele fatídico dia.

“Olha, foi um filme que passou na minha cabeça. O Santa Cruz abriu o placar e eu vibrei muito. Depois tomamos a virada e perdemos de 4 a 1. Gravei o depoimento na arquibancada. Fizeram imagens minhas chegando ao estádio, andando próximo ao campo, enfim, foram várias tomadas. Quando pediram para entrar no gramado, olhei para o lugar onde fiquei torcendo e a emoção bateu forte. Chorei mesmo”, disse Tiago do alto dos seus 35 anos, em conversa com o Estadão.

AMOR DE FAMÍLIA

A relação de Tiago com a equipe vem de uma tradição caseira. “O estádio (dos Plátanos) ficava a poucas quadras de casa. Meu avô levava meu pai ao campo e a história se repetiu comigo.” Em 2013, Tiago foi morar nos Estados Unidos. De volta no ano seguinte, virou assessor de imprensa do clube e passou a conviver com a rotina do Santa Cruz. Depois, se tornou presidente. No entanto, o sonho de comandar o time do coração virou pesadelo.

“A folha de pagamento girava em torno de R$ 40 mil com a comissão técnica. Incluindo viagens, alimentação, medicamentos e outras despesas, o valor subia para quase R$ 100 mil mensais. No terceiro mês, já não tinha mais como bancar. Meus pais fizeram uma previdência para mim e tiveram que tirar o dinheiro de lá. Paguei do bolso em torno de R$ 60 mil. Não me candidatei à reeleição. Fiquei doente, tive depressão, precisei tomar remédios. Foi um momento difícil.”

FALÊNCIA NÃO

Mas a história de Tiago com o clube do coração voltaria a ter mais capítulos a partir de 2019. E num cenário bastante desencorajador. No ano anterior, o Santa Cruz havia caído para a terceira divisão e existia a possibilidade do fim das atividades. Contra a vontade da família, ele voltou a ser presidente.

“Meu pai quando soube quase teve um troço. Não queria de jeito nenhum. Passamos o período da pandemia e disputamos a Copa FGF (também chamada de Copinha) no segundo semestre. Tínhamos cotas de patrocínios e recebemos um valor de R$ 120 mil do mecanismo de solidariedade da Fifa por conta da venda de atletas que começaram no clube, como foi o caso do goleiro Tiago Volpi, contratado pelo São Paulo.”

VIDA NOVA

O título da “Copinha” não foi apenas o primeiro da história do clube fundado em 1913, mas o início de uma nova era. Além do troféu, a equipe se credenciou a jogar a primeira fase da Copa do Brasil e garantiu mais R$ 500 mil aos cofres pela participação.

Com mais estrutura e planejamento, os ventos começaram a soprar a favor. Veio o título da Série B (terceira divisão do Estadual) e no ano passado, na disputa da Recopa Gaúcha, contra o Grêmio, mais um troféu na conta, mesmo com o vice-campeonato.

Diante de tantas reviravoltas, Tiago garante estar cada vez mais ligado ao clube, hoje na segunda divisão estadual. “Hoje sou presidente do Conselho Deliberativo, mas o Santa Cruz é a extensão da minha casa. É minha vida.”