Hemerson Maria dá a entender que elenco do Vila o derrubou, fala em discussão no vestiário e insubordinação

Ele pediu demissão do clube goiano após apenas 12 dias e três jogos - duas derrotas e um empate

Hemerson Maria já havia passado pelo Vila Nova em 2017 e 2018, mas desta vez não conseguiu fazer o time render e apontou o dedo

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Hemerson Maria deixou o Vila Nova. (Foto: Douglas Monteiro / Vila Nova)

Goiânia, GO, 24 (AFI) – Diante das palavras de Hemerson Maria, pode-se afirmar que os jogadores do Vila Nova derrubaram o técnico. Ele pediu demissão do clube goiano após apenas 12 dias e três jogos – duas derrotas e um empate.

Hemerson Maria já havia passado pelo Vila Nova em 2017 e 2018, mas desta vez não conseguiu fazer o time render e apontou o dedo. Ele se recusou a ser “marionete” nas mãos dos jogadores, deu a entender que teve bate-boca no vestiário após cobranças e que o elenco não aceitou seus métodos de trabalho.

A sequência sem vitórias colocou o Vila Nova na zona de rebaixamento da Série B, na 17ª posição, com 19 pontos, um a menos que o Londrina, primeiro time fora grupo do descenso.

Hemerson Maria foi o terceiro treinador a dirigir o Vila Nova no campeonato deste ano. Isso porque o time começou com Wagner Lopes e depois foi comandado interinamente pelo auxiliar Higo Magalhães.

O Vila Nova volta a campo na quarta-feira para enfrentar o Avaí, às 16 horas, no Onésio Brasileiro Alvarenga, em Goiânia (GO).

CONFIRA A POSIÇÃO OFICIAL DE HEMERSON MARIA:

“Eu, como comandante do time, tenho que procurar extrair o máximo dos jogadores, na parte técnica, tática, e principalmente mental. Quando falei de caráter, falei de foco, de concentração, de oscilação, aí não tive uma resposta, uma reação dos jogadores no momento. Ontem (segunda-feira), na reapresentação dos jogadores, fiz novamente uma reunião para tentar arrancar uma reação deles. Temos ampla condição de conseguir a reversão do quadro (sair do rebaixamento). Com a estrutura que o Vila dá para os atletas e para a comissão técnica, acredito que o Vila estará próximo do objetivo (Série A) nos próximos anos. Mas nesse ano, nosso maior campeonato é a permanência.

Se continuar um grupo que perde o foco, que tem problema de concentração, de se manter ligado os 90 minutos e se entregar ao máximo mentalmente, não iríamos alcançar o objetivo. Esse foi meu alerta ontem (segunda-feira) na primeira parte da conversa. Para minha surpresa, quando comecei a fazer algumas observações, teve manifestação contrária de jogador, achando que a situação está normal, que o grupo é vencedor, que chegou à final do Campeonato Goiano, que nem tudo está ruim, que fez uma boa participação na Copa do Brasil. Eu retruquei e disse que no Vila Nova o que importa é o dia seguinte. O que passou ficou para trás. Eu tenho um histórico no clube, mas tenho que pensar daqui para frente. Na função de comandante eu tenho que cobrar.

Estranhei a reação do grupo. Em todo grupo que trabalhei, grupo vitorioso, como o Avaí de 2012 e o Joinville de 2014, houve cobrança de vestiário, cobrança forte. Mas a discussão ficava no vestiário, a gente se abraçava e ia em busca do bem comum, que é o clube. O grupo não acatou bem essa cobrança. Achei uma reação completamente desproporcional, mas toquei a conversa. Quando eu ia passar para o tópico seguinte, aconteceu uma reação impactante, talvez a reação mais forte de grupo para treinador em toda a minha carreira. Sou treinador desde os 23 anos. Não quero citar nomes, mas os fatos são verdadeiros e tenho testemunhas. O atleta falou que o grupo é contrário à minha metodologia de trabalho. Não caí de paraquedas no futebol, sou um ex-jogador, estudei, estou tirando a Licença PRO da CBF, tenho bom relacionamento com todos os funcionários. Assim que fui criado. Não fui criado com mimo. Meus pais me ensinaram que você tem que correr atrás dos objetivos. Quando o momento é difícil, você tem que colocar a cara para bater, se expor e mostrar realmente que tem força para sair desse momento delicado.

Foram feitos questionamentos sobre minhas palestras, duração de treinamento, sistema, e até de programação de treinamento. Uma coisa que nunca vi no futebol. Me decepcionou muito. Após a fala desse jogador, ele se dirigiu ao grupo e perguntou se era isso que eles estavam sentindo. A maioria dos jogadores disse que sim. Não vou mudar minha maneira de ser. Questionaram meu tom de voz, que eu sou mais duro. Mas eu sou assim mesmo, o vestiário é meu, não abro mão, o comando é meu e não pode haver uma inversão dos fatores. O grupo de atletas direcionar como tem que ser o treinamento, em quais dias e quantas sessões de treino. Isso não pode acontecer. Foi bastante impactante, muito triste.

Minha intenção era fazer os atletas entenderem que nós temos uma missão duríssima pela frente, que não está bom, não está legal, temos algo a mais para dar. Temos que, se for para ficar três períodos trabalhando, fazer direito. Já dei treino no dia do jogo em dias de jogos às 21h. Percebi que para ficar aqui com o grupo e obter resultados eu teria que mudar minha maneira de ser e minha metodologia e isso não existe. O melhor caminho para conseguir os objetivos e a vitória é o trabalho duro, é a resiliência, mas infelizmente boa parte do grupo me mostrou que não está afim de comprar minha ideia. Não serei uma marionete conduzida por um grupo de jogadores, que talvez não tenha a consciência da importância que é vestir a camisa do Vila Nova e disputar o Campeonato Brasileiro. A partir disso, tomei essa dura decisão, ficou muito inviável. Peço desculpa ao torcedor do Vila Nova, vim super motivado, me sinto melhor do que em 2017. Quero agradecer ao clube, à diretoria e à torcida“.

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