FIORI GIGLIOTTI - Uma voz que não se cala e uma saudade para sempre

Há 10 anos, Fiori Gigliotti partiu. Deixou uma lacuna que dificilmente será preenchida

No domingo passado dia 05, na Rádio Trianon, alguns jornalistas se reuniram para homenagear Fiori Gigliotti

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– Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo !

– É fogo ! É fogo ! É fogo torcida brasileira – um golaço que fez a torcida explodir de emoção !

– Vai Brasil, que a nossa fé te empurra !

– O nome desse craque está incrustado no nosso cantinho da saudade (nome do programa na hora do almoço aos domingos).

Fiori Gigliotti: locutor das multidões

Fiori Gigliotti: locutor das multidões

Esses bordões identificam um dos maiores, se não o maior, de todos os locutores do rádio esportivo do Brasil. Seu nome é mais do que uma legenda, que circula em todos os segmentos da sociedade brasileira e ecoa de Norte a Sul a, Leste a Oeste.

Há 10 anos, Fiori Gigliotti partiu. Deixou uma lacuna que dificilmente será preenchida e dizemos isso com a certeza de que o torcedor também tem esse pensamento. No domingo passado dia 05, na Rádio Trianon, alguns jornalistas se reuniram para homenagear Fiori Gigliotti, que partiu há uma década. Tantas foram as lembranças, as histórias e os feitos de um homem que deixou seu nome na história do futebol e no rádio esportivo do país.

EXEMPLO DE TUDO
Trabalhei uns 20 anos com Fiori, exemplo de correção, dignidade, profissionalismo e honestidade. Ele tinha a doçura do mel, a lealdade e o respeito ao próximo, a bondade como o bom samaritano neste mundo de inveja, maldade, falta de amor ao próximo e de gente que parece gostar de mastigar o fígado do seu oponente e beber a bílis alheia para satisfazer seus instintos bestiais.

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Fiori sempre cultivou a amizade, a paciência e o respeito ao próximo, mesmo quando, por seus caminhos, às vezes cheios de pedras e espinhos, tenha cruzado com figuras inexpressivas, rancorosas e injustas.

Foram incontáveis os profissionais que passaram por suas mãos, encontrando sempre apoio e incentivos para que se dessem bem na carreira que muitos abraçaram. O talento que Deus lhe deu, Fiori procurava transmitir àqueles que sempre sonharam ser um dia um profissional de muita capacidade.

Quando fui trabalhar com Fiori, muita gente achava que a dupla não daria certo por causa do meu temperamento mercurial, muito agudo e forte nas críticas. Fiori era doce na divergência e sempre respeitou as minhas posições. A dupla deu certo por causa do temperamento desse homem que veio de Barra Bonita e que se revelou em Lins.

DOZE COPAS DO MUNDO
Fiori narrou 10 Copas do Mundo e trabalhou em mais 02 como comentarista. A sua saída da Rádio Bandeirantes foi triste porque não respeitaram sua dignidade pessoal e profissional. Ele tinha se preparado para o futuro. Sabia que um dia teria que parar, mas não esperava o que lhe fizeram. Claro que ele nunca reclamou das injustiças, embora a tristeza de seu rosto denunciasse amargura da traição e do desrespeito.

Mais do que um profissional, Fiori era uma marca da Bandeirantes. Um símbolo, uma legenda. Dono de dezenas de títulos de cidadão em várias cidades de São Paulo e do país, Fiori resolveu dar sua contribuição de cidadão para melhorar a política. Encontrou oportunistas pela frente e injustiças de milhares de pessoas que ajudou.

Em suas viagens ao interior de São Paulo e do Brasil, ele era saudado por todos em reconhecimento ao profissional e homem digno que sempre foi. Era uma romaria. Mas na política, nem todos praticam o bem. Preferem a mesquinhez e a indignidade. Por uma interpretação malandra da lei não o deixaram tomar posse como deputado, nem cumpriucurta suplência na Assembleia Legislativa.

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UMA SEMPRE ESCAPA…
Claro que, mesmo sendo sério, honesto e digno, Fiori também tinha o seu lado torcedor e, às vezes, extrapolava como qualquer torcedor fanático. Quando saímos da Copa da Itália, Fiori bradou no microfone da Rádio Bandeirantes:

– “ Vamos embora pra casa porque o nosso treinador (Lazaroni) tem merda na cabeça!”

Quando fomos eliminados pela Itália, em 1982, no programa Gente, da Bandeirantes, Fiori Lamentava a desclassificação, depois do futebol bonito que jogamos naquela Copa. Lá pelas tantas, Fiori pediu a nossa opinião. Não pensei duas vezes e lasquei:

“Fiori perdemos porque esta seleção só tem bundas moles”.

“Deus do céu, Dalmo! Assim, não”.

Meu desabafo foi normal, mas agrediu a sensibilidade de Fiori, e naturalmente, dos ouvintes. Eu não aguentei, desabafei.

Fiori levou para o além, quero crer, suas mágoas que nunca revelou. Mas uma delas, ele deixou escapar:

“Seo João Saad me disse que quando eu parasse, ele faria uma festa e no dia seguinte eu seria seu assessor direto, até o fim da minha vida”.

Infelizmente nem sempre os filhos cumprem os compromissos de seus pais. Fiori Gigliotti sofreu mais essa injustiça, mas não importa, porque cada um responde por seus atos no tribunal de sua própria consciência. Quem o magoou e o injustiçou pagará tudo com juros e correção monetária. Deus não perdoa os injustos.

DEVOTO DE SÃO JUDAS
Fiori
era devoto de São Judas Tadeu. No dia de seu santo, ele saia de seu apartamento na Avenida Nove de Julho e ia a pé até o Jabaquara para cumprir suas promessas e fazer sua devoção a São Judas.

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Fiori gostava de citar da Bíblia o livro Eclesiastes, o pregador. Citava alguns versículos, assim:

“Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu… Há tempo de nascer e tempo de morrer… Tempo de chorar e tempo de rir… Tempo de buscar o tempo de perder… Tempo de estar calado e tempo de falar… Tempo de amar e tempo de aborrecer… Tempo de guerra e tempo de paz.”

Fiori teve o seu tempo. Viveu-o com intensidade. Sua voz ecoa por estádios e por todos os rincões deste país.

Fiori combateu o bom combate, assim como fez o Apóstolo São Paulo. É digno da coroa do reconhecimento. E a saudade que deixou é para todo o sempre.

P.S.: O programa da Rádio Trianon foi ao ar no dia 05 com as presenças de Don Roberto, Danilo Almeida, Marcos Teixeira e Marcelo Gigliotti. São 10 anos de saudade.