Faustão lembra o início da carreira em Campinas

Apresentador da TV Globo começou na Rádio Cultura de Campinas

O programa Domingão do Faustão, nas domingueiras da Rede Globo de Televisão, caiu numa mesmice e por isso confesso que só o assisto de vez em quando, após meus compromissos profissionais.

Tenho que reconhecer que o programa deste domingo, na antevéspera do final do ano, foi extraordinário ao homenagear o ‘rei’ Roberto Carlos.

Bela edição com pessoas contando a trajetória do maior ídolo da música popular brasileira de todos os tempos.

Curioso é que Roberto Carlos transmitiu e ainda transmite muitas emoções em suas canções, e já não consegue se emocionar com relatos. A cada depoimento gravado, com rasgados elogios, o rei repetia um mecânico ‘muito obrigado’.

Quem chega aos 70 anos já viveu muitas emoções e naturalmente restam poucas para mexer com o seu coração. Entendo.

De Roberto Carlos prolongo em mais um só assunto: onde anda o meu amigo de infância Júlio César Cardoso? Fui informado que é dentista em Campinas, mas não o vejo há mais de 45 anos.

Por que Júlio César? Porque em 1962 amarrei uma aposta com ele que Roberto Carlos seria o maior ídolo da música popular e a contestação dele era que ninguém destronaria a Bossa Nova. Só isso.

RÁDIO CULTURA

Assuntos pessoais à parte, no citado programa chamou a atenção o reconhecimento do apresentador Fausto Silva, o Faustão, à Rádio Cultura de Campinas, hoje Rádio Globo-Campinas, que abriu-lhe as portas para a sua introdução nos meios de comunicação, em 1964, aos 14 anos de idade.

Faustão bem lembrou que apresentava o programa ‘Campinas Hit Parade’, das 11h às 12h, com chancela publicitária exclusiva das Lojas Líder.

O musical parava literalmente a cidade e posteriormente foi apresentado pelo hoje dentista e empresário José Luiz Junqueira, Eduardo Francisco Bispo, Sérgio Batista (já falecido) e José Arnaldo Canisin, hoje chefe da equipe de esporte da Rádio Bandeirantes-Campinas.

Faustão já era irreverente numa época de locutores padrões. Se todos radialistas, ao lerem o texto da propaganda das Lojas Líder, citavam o endereço da matriz como Rua José Paulino, o insubordinado Faustão trocava o formal pelo coloquial Zé Paulino.

– Esta é a Cultura Campinas, a mais ouvida. Na Líder você tem cinco minutos para comprar e dois anos para pagar. Líder, a loja do povo -, era o texto lido pelo apresentador.

CARNEIRO

Já que Faustão reportou um pouco da trajetória de Roberto Carlos, lembro neste espaço a dele no rádio de Campinas.

Além de apresentador de programa musical, Faustão era um repórter esportivo espirituoso. Num jogo do Guarani contra a Portuguesa Santista, no Estádio Ulrico Mursa, em Santos, ele – como repórter – chamou o narrador Mário Melino, já falecido, para informá-lo que havia um carneiro em campo.

– No lugar de quem, Fausto? – perguntou Melilo, mal esperando a sacada bem-humorada do repórter: ‘Pastando’.

Era um carneiro animal e não algum jogador como sobrenome ou apelidado de Carneiro.

Faustão, pra quem não sabe, tinha miopia em alta escala e usava óculos do tipo fundo de garrafa.

Geralmente o via solitário, em frente à antiga Loja Garbos, que ficava na esquina das ruas General Osório e Barão de Jaguará, em Campinas, a espera de amigos da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, para a tradicional resenha.

O que me deixava intrigado na época era ouvir um radialista com a perspicácia do Faustão carregar guarda-chuva embaixo do braço, bastando para isso meia dúzia de nuvens no céu.

Em 1970 o rádio esportivo de Campinas ficou pequeno para Fausto Silva. Por isso se transferiu para São Paulo, e fez sucesso nas rádios Joven Pan e Globo, e nas TVs Gazeta, Bandeirantes e Globo.

Antigos amigos de Faustão falam de sua simplicidade e humildade. A competência dele todos nós conhecemos.