ESPECIAL: Pandemia traz lições de gestão a clubes brasileiros

O Portal Futebol Interior vem trazendo especiais que discutem como a pandemia está mudando a realidade

O Portal Futebol Interior vem trazendo especiais que discutem como a pandemia está mudando a realidade

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Campinas, SP, 22 (AFI) – A paralisação do futebol por conta da pandemia do novo coronavírus agravou diversos problemas já enfrentados por clubes brasileiros. Sem receitas de TV, bilheteria, transferências e, em casos mais graves, até de patrocinadores, os clubes estão vendo a importância de ter alternativas financeiras para amenizar crises futuras.

Diversos clubes brasileiros já enfrentavam atrasos salariais e muitos apresentaram dificuldades logo no primeiro mês, ou seja, não tinham o chamado ‘Caixa Emergencial’ ou ‘Reserva Emergencial’, como explicou Luís Gustavo Baricelo, professor de economia da Instituição Toledo de Ensino, de Bauru.

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PROBLEMAS NA GESTÃO

Baricelo ainda comentou sobre o assunto ‘clube-empresa’, que poderia reformular a gestão. Ele salientou que os clubes não precisam esperar uma determinação para colocar em prática.

“Os clubes já deveriam ter pensado nessa estratégia empresarial, ter um fluxo de caixa, ter suas finanças organizadas, ainda que tenha algum déficit, mas se organizado para pagar, mas, claro, ninguém esperava essa crise. Quando voltar, os próprios clubes devem tomar essa consciência para se portar como empresa”, aconselhou.

“O problema é que muitos clubes caíram nas mãos de maus gestores, mas pouco a pouco estamos mudando essa mentalidade. O que a gente vê dos campeonatos bem-sucedidos, como espanhol, inglês, é que os clubes são verdadeiras empresas, não só dentro de campo, mas explorando todo o marketing que tem por trás, como visita ao estádio, à galeria de troféus, venda de camisas, de suvenires, etc”, acrescentou Baricelo.

CLUBE-EMPRESA E ALTERNATIVAS DE RECEITAS

Daniel Lima Vialôgo, administrador e consultor de marketing esportivo, também segue a linha de raciocínio.

“Esse assunto está em alta. Mas e para o clube que não aderir essa forma de gestão? Esses clubes também podem ser tratados como empresa. É o momento de repensar a filosofia de trabalho, de tratar o clube como empresa”, disse ao Portal Futebol Interior.

Vialôgo ainda cita três fatores em que os clubes devem pensar desde já para ter alternativas de receitas e poder encarar momentos como esse com menos dificuldades.

“Os clubes agora precisam de um plano imediato, mas como ter um plano se ele não faz parte de um planejamento com um conjunto de atividades em curto, médio e longo prazo? Os clubes precisam pensar desde já em como vão se planejar para o futuro, com licenciamento de produtos, sócio-torcedor e patrocínios.

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PLANEJAMENTO

Em seu livro ‘Marketing no Futebol’, Daniel Vialôgo ainda destaca outros pontos importantes que todos os clubes precisam se planejar para alavancar o número de torcedores (consumidores) e, consequentemente outras formas de receitas.

“O clube precisa fazer um planejamento que envolve sete áreas: análise de mercado, comunicação integrada e mídia, marketing de relacionamento e o programa sócio-torcedor, patrocínios e parcerias, o mapeamento de mercado (com licenciamento de produtos), a relação com gerente de futebol, jogadores e categorias de base, e estádio e arena. Esses pontos sempre precisam fazer parte do planejamento, agora mais ainda”, ressaltou.

‘AMADORISMO’ NA GESTÃO

Um dos grandes impedimentos para tudo isso ser colocado em prática é falta de profissionalização da gestão. Apesar de isso estar mudando no Brasil, ainda é comum em diversos clubes, não importa o seu tamanho.

“Um dos grandes erros é achar que aquela pessoa que foi jogador de futebol está preparada para ser diretor de futebol, para ser gerente comercial. É amadorismo. Temos os casos de exceção, mas isso não vai virar regra. Os clubes precisam de profissionais com formação acadêmica e profissional pertinentes”, alertou.

Daniel Vialôgo explicou um pouco mais sobre a importância dos três pontos que ele citou anteriormente: licenciamento de produtos, sócio-torcedor e patrocínios. É interessante notar que tudo isso está diretamente relacionado ao perfil do torcedor. Conhecer o público-alvo é fundamental para produzir produtos que o agrade e programas de sócios efetivos. Por sua vez, um maior número de torcedores, ou clientes, favorece na busca de patrocinadores.

SÓCIO TORCEDOR

Mesmo com as dificuldades atuais, Daniel aconselha que os clubes façam um planejamento agora para o sócio-torcedor. Segundo ele, como o futebol é uma paixão nacional, muitos estarão dispostos a se associar, mesmo com o futebol parado, mas que essa paixão não é devidamente aproveitada pelos clubes.

“É necessário fazer um plano de ação com dois momentos. Primeiro, a retenção durante a pandemia e, segundo, como fazer para atrair novos associados para o sócio-torcedor em meio à uma pandemia que não tem previsão para acabar. Esse é o grande desafio para os profissionais de marketing, mas o futebol é uma paixão nacional e dá para amenizar os prejuízos. O futebol é algo muito forte, enraizado no torcedor brasileiro e eu acho que todos os clubes deveriam usufruir melhor dessa questão cultural, do quanto o futebol representa para o Brasil”, analisou.

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Muitos clubes do Brasil e do interior paulista sequer possuem um programa sócio-torcedor e perdem a oportunidade de renda e uma maior aproximação com o torcedor. Vialôgo afirma que todos os clubes devem reavaliar a posição e voltou a citar a falta de gestão para implementar o programa.

“O clube precisa perguntar e saber o que levou seus torcedores a gostar do time, saber o perfil dos torcedores. Porque quando a pessoa gosta do time, ele vai aderir ao sócio-torcedor. É preciso campanhas, usando os jogadores para aproximar torcida e clube, mesmo para os clubes que não possuem ainda o programa. Muitas cidades do interior paulista têm potencial, mas a falta de gestão impede a criação do sócio-torcedor”, acrescentou.

“Eu acho que todos os clubes, sem exceção, podem implementar o sócio-torcedor. Tem uma frase que deveria ser aplicada no futebol: ‘Pensar globalmente, agir localmente. É preciso estudar as boas práticas, dos grandes clubes europeus, e colocar em prática, claro, sempre adaptando à realidade do clube.

Outro fator é aproveitar todas as chances para alavancar as vendas e relacionar o sócio-torcedor com venda de produtos. O dia de jogo não pode ser um dia qualquer e precisa ser planejado. Bons resultados devem servir para impulsionar as ações.

“É preciso pensar também no dia de jogo e como aumentar a receita. Alguns clubes não possuem uma loja no estádio e perde oportunidade de vendas. Os clubes precisam aproveitar um bom momento no campeonato para vender produtos e fomentar o sócio-torcedor, por exemplo.

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LICENCIAMENTO DE PRODUTOS

Outro fator que Daniel Vialôgo vê com potencial não explorado pelos clubes é a venda de produtos, que deveria ter uma participação maior no orçamento do clube.

“É lamentável que o licenciamento de produtos não tenha uma participação maior na receita do clube como acontece em outros países. A camisa é um produto que muitas vezes é deixado de lado no mercado. Na época que o Ronaldo foi para o Corinthians, por exemplo, as vendas foram surreais. É preciso pensar com mais carinho, não importa o tamanho do clube”, avaliou.

Para isso, conhecer como o mercado funciona, escolher o tipo certo de venda e até unir a venda de produtos com o sócio-torcedor pode ajudar o clube a alavancar todas as ações de marketing.

“A principal chave para o sucesso do licenciamento de produtos é o mapeamento de mercado e isso é um dos principais trabalhos de um profissional que trabalha com inteligência de mercado na área de marketing. Entender como o varejo funciona, com vendas online e offline. Saber que tipo de produtos o torcedor do clube gosta mais e até associar alguns produtos licenciados com novas adesões do programa sócio-torcedor.

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PATROCÍNIOS

Conhecer o torcedor faz com que se crie um bom sócio-torcedor. Mais clientes leva ao aumento de venda de produtos.

Com esse aumento de exposição, a busca de patrocínios se torna mais favorável ao clube.

Além disso, Daniel volta a falar sobre gestão séria, pois um futuro patrocinador quer saber onde está investindo o dinheiro.

“Um possível patrocinador quer saber para onde vai o dinheiro. Sem um projeto para apresentar, a prospecção de patrocínio não é boa. Usar, por exemplo, as categorias de base. Mostrar ao possível patrocinador que o dinheiro dele será usado para descobrir talentos e fazer campanhas direcionadas aos mais jovens da cidade e aumentar a exposição da marca”, explicou.

“Mostrar que o torcedor tem perfil para ser consumidor do patrocinador, onde a marca será exibida e onde será investido o dinheiro”, acrescentou.