Daniel Alves completa quatro meses na prisão; relembre principais acontecimentos do caso

A reportagem relembra, mês a mês, os principais acontecimentos e a evolução do caso na Justiça

Convocado por Tite para a disputa do Mundial no Catar, o lateral-direito teve sua vida transformada desde o dia 20 de janeiro, quando a Justiça espanhola decretou que o atleta fosse investigado e respondesse ao processo sob prisão preventiva

Após recurso negado, Daniel Alves espera por julgamento em até 60 dias
Daniel Alves completa quatro meses na prisão

Campinas, SP, 20 – Acusado de estupro em uma boate de Barcelona, Daniel Alves completa quatro meses no presídio neste sábado, 20 de maio. Convocado por Tite para a disputa do Mundial no Catar, o lateral-direito teve sua vida transformada desde o dia 20 de janeiro, quando a Justiça espanhola decretou que o atleta fosse investigado e respondesse ao processo sob prisão preventiva. A reportagem relembra, mês a mês, os principais acontecimentos e a evolução do caso na Justiça.

JANEIRO

O caso teve sua primeira repercussão na imprensa espanhola ainda em 2022. No dia 31 de dezembro, o diário ABC revelou que Daniel Alves teria violentado sexualmente uma jovem na boate Sutton no dia anterior. A mulher esteve acompanhada por amigas a todo o instante e a equipe de segurança da casa noturna acionou a polícia catalã (Mossos d’Esquadra), que colheu depoimento da vítima.

No dia 10 de janeiro, a Justiça espanhola aceitou a denúncia e passou a investigar o jogador. Inconsistências nas versões dadas pelo jogador à Justiça, além da possibilidade de fuga da Espanha, fizeram com que a juíza Maria Concepción Canton Martín decretasse a prisão de Daniel Alves no dia 20 de janeiro, uma sexta-feira, após prestar depoimento.

O Juizado de Instrução 15 de Barcelona conduz a investigação. Nas contradições, Daniel Alves chegou a dizer que não conheci a mulher que o acusava; depois, revelou que houve relação sexual, mas de forma consensual. O pedido do Ministério Público para que o atleta fosse detido aconteceu também por causa de um possível risco de que ele “fugisse” da Espanha, em meio à condução do processo.

Daniel Alves foi prestar depoimento de forma voluntária à polícia, sem a presença de seus advogados. O lateral estava na Espanha com Joana Sanz, sua mulher e modelo, por causa do velório da sogra. Em janeiro, ela chegou a pedir para que a imprensa respeitasse sua privacidade nesse período.

À época em que foi detido, Daniel Alves tinha contrato com o Pumas, do México, e havia disputado a Copa do Mundo do Catar com a seleção brasileira. No mesmo dia que foi preso de forma provisória, o clube anunciou a rescisão de seu vínculo com a equipe.

Cristóbal Martell, que já defendeu Barcelona, Lionel Messi e empresários e políticos, foi contratado para a condução do caso. O lateral está, desde então, detido no presídio Brians 2, na Catalunha.

FEVEREIRO

Dinorah Santana, primeira mulher de Daniel Alves, sua agente e mãe de seus dois filhos, saiu em defesa do jogador, preso em Barcelona provisoriamente enquanto responde por acusação de crime sexual. Em entrevista ao jornal espanhol Sport, a brasileira afirmou acreditar na inocência do atleta, apesar dos processos na Justiça espanhola.

A defesa de Daniel Alves tentou recurso, junto ao MP, para que o jogador respondesse ao processo em liberdade. Em sessão realizada a portas fechadas, o órgão citou os múltiplos indícios que incriminariam o brasileiro, especialmente as provas de DNA, para negar o pedido.

Em meio ao processo, Daniel tentou sustentar seu relacionamento com Joana Sanz. Em diversas oportunidades, o lateral ligou para sua mulher para preservar o casamento. Ela também o visitou no presídio neste período. Em um dos diálogos, revelados pelo canal espanhol Telecinco, o jogador teria afirmado que estava bêbado e não se lembra de nada que aconteceu no local.

MARÇO

Dois meses após ser preso, Daniel Alves ficou, segundo amigos e fontes próximas do jogador, abatido e desesperançoso. Soma-se isso ao fato de que, em março, Joana Sanz indicou que se separaria do jogador. Em carta escrita à mão e publicada nas redes sociais, a modelo afirma que continuará o amando, mas precisava se afastar.

“Eu o amo e o amarei para sempre. Quem diz que um amor se esquece está se enganando ou não amou de verdade. Mas eu amo, respeito e valorizo muito mais a mim mesma. Perdoar alivia, então, fico com o mágico e encerro uma etapa da minha vida que começou no dia 18 de maio de 2015. Dou graças às oportunidades e aprendizados que a vida me dá. Por mais difícil que seja, aqui está uma mulher forte que passa à etapa seguinte da sua vida”, escreveu Joana.

No mesmo mês, Daniel escreveu outra carta, obtida com exclusividade pelo Estadão. Nela, o jogador fala diretamente com a mulher e “lamenta sua decisão”. Em um dos trechos, ele escreve sobre sua inocência. “Compreendo a dor que está causando a injusta situação que estamos vivendo. Entendo que você não tenha sido capaz de suportar toda essa pressão. Os fatos de que sou acusado são alheios a mim e aos valores que me guiaram por toda a minha vida: o amor, o respeito e o esforço.”

Além disso, neste mês, segundo o site espanhol El Caso, funcionários da Brians 2 notaram a entrada de uma grande quantidade de camisas do Barcelona na penitenciária. As peças seriam para um preso que tem permissão para circular em diferentes módulos do complexo. A presença do jogador movimenta um esquema da venda de camisas autografadas pelo brasileiro, que são trocadas por maços de cigarros.

ABRIL E MAIO

Antes de completar quatro meses na prisão neste sábado, Daniel Alves voltou a depor à Justiça espanhola em abril. De acordo com a legislação espanhola, uma pessoa, na condição de investigado, pode depor quantas vezes considerar necessária durante o processo judicial. Foi por isso que Daniel pediu para falar novamente.

Nesse novo depoimento, voltou a reiterar que houve consentimento da vítima na relação sexual. Além disso, afirmou que as múltiplas versões que ofereceu sobre o caso foi uma forma de esconder sua infidelidade de Joana Sanz. Mesmo indicando que se separaria do jogador, a modelo seguiu com visitas na prisão e até o parabenizou em seu aniversário, em abril.

De acordo com um colega de Daniel Alves, o jogador brasileiro é hostilizado no presídio. Chamado de “estuprador”, ele costuma ser intimidado nos momentos em que divide espaço com outros presidiários, como nas partidas de futebol e no refeitório. A identidade do colega do lateral direito não foi revelada.

O homem revela ainda que Daniel Alves está mais magro e abatido desde que chegou à prisão. Segundo ele, o brasileiro tem privilégios na cadeia, mas não especificou quais são. O atleta passa a maior parte do tempo isolado em seu módulo e nega que tenha agredido sexualmente a jovem de 23 anos que o acusa.

A defesa também pediu um novo pedido de soltura para Daniel Alves. De acordo com os advogados do jogador, não há risco de fuga do réu. Sua família, ex-mulher e filhos se mudaram para Barcelona. O corpo jurídico afirma que sempre teve planos de que os dois filhos fossem completar os estudos universitários na Espanha. Por esta razão eles vieram morar no país europeu para morar na casa de sua propriedade em Esplugues de Llobregat, em Barcelona.

Além disso, no pedido enviado no dia 16 de maio, a defesa cita que nas “imagens gravadas se vê claramente dois adultos desenvolvendo um jogo erótico preliminar ao coito”. Esse trecho está presente na apelação, apresentada ao Tribunal de Barcelona e revelado pelo Uol.

QUAL PODE SER A PENA DE DANIEL ALVES?

Ainda não há uma data para que o caso de Daniel Alves tenha seu veredito na Justiça da Espanha, mas ele deve ocorrer ainda em 2023. Em outubro de 2022, o Código Penal da Espanha foi alterado com a adição de uma nova lei, a qual prevê que os crimes sexuais devem ser tipificados de acordo com o consentimento da vítima. Chamada de “Só sim é sim”, ela passou a considerar que todos os atos sexuais não consensuais passaram a ser considerados violência. A prisão do jogador está mantida até o final do julgamento.

De acordo com o jornal El Mundo, Daniel Alves poderá ser condenado a uma pena de oito a dez anos de prisão. No início de fevereiro, oito testemunhas, que estiveram presentes na madrugada em que o caso teria ocorrido, prestaram depoimento na Justiça espanhola: uma amiga e a prima da denunciante; dois garçons da área VIP da Sutton; o porteiro da casa noturna; o diretor da boate, responsável por acionar o protocolo contra agressão sexual e chamar os Mossos d’Esquadra (polícia catalã); e outras duas pessoas que estavam na discoteca na noite do ocorrido.

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