Brasil x Haiti: do “Jogo da Paz” à presença haitiana no Brasil
O reencontro entre Brasil e Haiti na Copa do Mundo de 2026 revive memórias do Jogo da Paz e expõe uma história entrelaçada por futebol, política, imigração e disputas internacionais.
Confronto reacende a relação construída entre futebol, diplomacia e história entre os dois países.
São Paulo, SP, 05 (AFI) – O sorteio da Copa do Mundo de 2026 reservou ao Brasil um reencontro com enorme carga simbólica. Presente no Grupo C, ao lado de Marrocos e Escócia, a Seleção enfrentará o Haiti — país que vive profunda crise humanitária e carrega uma relação única com o futebol brasileiro desde o emblemático Jogo da Paz, em 2004. Mais de duas décadas depois, esporte, política e memória se cruzam novamente.
Quando a bola rolar para Brasil x Haiti, o mundo verá mais do que um confronto esportivo. Estará diante de um encontro que atravessa séculos, costurado por guerras, diásporas, diplomacia, política internacional e, claro, por futebol.
A HISTÓRIA MUITO ANTES DO FUTEBOL

O Haiti não é qualquer país. É a primeira república negra do mundo, fundada em 1804 após a única revolta de escravizados vitoriosa da história moderna. Pagou caro por isso: foi isolado, sufocado economicamente e, mais tarde, ocupado militarmente pelos Estados Unidos por quase 20 anos (1915–1934).
A partir daí, sua trajetória política se embaralha com interesses externos — especialmente os norte-americanos — em golpes, intervenções e crises humanitárias. Nas últimas décadas, nada mexeu mais com o país do que o terremoto de 2010 e a violência crescente das gangues armadas.
Nesse cenário, o futebol virou refúgio, elemento de identidade nacional e válvula de esperança.
UMA RELAÇÃO DE DIPLOMACIA E AFETO
Se os EUA moldaram o destino haitiano pela força, o Brasil se aproximou por outro caminho — diplomático, simbólico e, mais tarde, esportivo.

Em 2004, o país assumiu o comando da MINUSTAH, missão de paz da ONU. Militares brasileiros atuaram em solo haitiano por treze anos. E foi ali que nasceu um dos capítulos mais marcantes do futebol moderno: o Jogo da Paz.
Em agosto daquele ano, Brasil e Haiti transformaram um amistoso em ato político global.
O país caribenho atravessava guerra civil, instabilidade extrema e pobreza estrutural. Sob incentivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com aval da ONU e da Fifa, a Seleção — então liderada por Parreira e dona do recente pentacampeonato — desembarcou em Porto Príncipe em uma operação inédita: escoltada por blindados e recebida por milhares de torcedores que trataram o futebol como esperança.

A partida, que trocou armas por ingressos como gesto simbólico de desarmamento, terminou em 6 a 0 para o Brasil, com show de Ronaldinho Gaúcho. A ação rendeu à CBF o Prêmio Fifa Fair Play e virou documentário (“O Dia em que o Brasil Esteve Aqui”), eternizando imagens de um país devastado recebendo seus ídolos como heróis.

A relação entre as nações se intensificou anos depois, com a chegada de milhares de haitianos ao Brasil após o terremoto de 2010.
Eles encontraram trabalho em fábricas do Sul e Sudeste, ocuparam cidades como Cuiabá, Manaus, Campinas, Joinville, Porto Alegre e São Paulo, criando comunidades e formando, porque não, um nova geração de torcedores da Seleção.
Para muitos deles, Brasil e Haiti não são países distantes, são partes da mesma vida. É por isso que o reencontro na Copa terá tanto peso emocional.
HAITI EM 2026: ENTRE SONHO, CRISE E RESISTÊNCIA

A classificação haitiana para o Mundial após 52 anos é um dos capítulos mais emocionantes da Copa. Em meio a um país onde mais de 80% da capital está sob controle de gangues, segurança inexistente e uma ONU incapaz de estabilizar o território, o Haiti superou Costa Rica e Honduras nas Eliminatórias e fez história.
O drama político se reflete até na própria seleção: o técnico Sébastien Migné, francês, nunca pisou no Haiti por questões de segurança e monta a equipe a partir de relatos, vídeos e observações externas.

Os jogos como mandante acontecem em Curaçao, e parte do elenco é formada por atletas nascidos na Europa, filhos da diáspora haitiana — símbolo da fuga causada por pobreza, instabilidade e desastres naturais que marcaram o país desde o terremoto de 2010.
O REENCONTRO EM SOLO NORTE-AMERICANO
O cenário da Copa adiciona camadas inéditas.
Brasil e Haiti jogarão nos Estados Unidos, país que:
• ocupou o Haiti militarmente;
• influenciou sua política interna por décadas;
• hoje mantém políticas rígidas de deportação contra haitianos.
Nos arredores de Miami, Houston e New York, cidades com grandes comunidades haitianas, o duelo deve atrair milhares de torcedores da diáspora, muitos deles vivendo o choque entre pertencimento e exílio.
FUTEBOL, POLÍTICA E FUTURO
Rever o Haiti em um Mundial envolve mais do que futebol. É revisitar uma relação marcada por migração, diplomacia, conflitos e solidariedade.
O Brasil foi protagonista da missão da ONU entre 2004 e 2017, e, após o terremoto de 2010, tornou-se um dos principais destinos dos haitianos, especialmente no Sul e Sudeste.

Em 2026, o reencontro em campo ocorrerá em contexto distinto: o Brasil de Carlo Ancelotti estreia contra Marrocos, enfrenta o Haiti em 19 de junho e fecha a fase de grupos contra a Escócia.
Em 2004, o Haiti abriu o portão para o Brasil entrar. Em 2026, será o Brasil quem reencontrará o Haiti em solo norte-americano, um país que moldou, feriu e influenciou a história haitiana.
O futebol, mais uma vez, costura o que a política rasgou.
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