Argentino preconceituoso? Nem tanto!

Este terceiro título me remete à discussão polarizada sobre alegada soberba do povo argentino

Este terceiro título me remete à discussão polarizada sobre alegada soberba do povo argentino

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​Campinas, SP, 21 (AFI) – Este terceiro título mundial conquistado pela seleção da Argentina, na competição do Catar, me remete à discussão polarizada sobre alegada soberba daquele povo.

Como dizia o ex-centroavante Dadá Maravilha, ‘uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa’.

Quando o assunto é futebol, é natural que puxem a brasa para a sardinha deles. Logo, convenhamos que o brasileiro não é diferente.

Em comportamento geral, a discussão é mais embaixo.

Minha estada de quatro dias na capital Buenos Aires, em 2013, serviu para derrubada do conceito preconceituoso do argentino em relação ao brasileiro.

Na rodagem de ônibus e metrô, o tratamento dispensado em nada se diferenciou ao nosso.

Foi num dezembro, como este, que os diretores do portal FI, Élcio Paiola e Artur Eugênio, propuseram-me que fizesse cobertura da final da Copa Sul-Americana para o veículo, com envolvimento da Ponte Preta contra o Lanús, na Argentina, jogo que terminou com o título para os mandantes, após incontestável vitória por 2 a 0.

CONVENCIONAL?

Evidente que não viajaria para repasse de informações convencionais, do cotidiano.

Não me submeteria a uma mísera pergunta ao então treinador Jorginho, na entrevista coletiva, pois bastaria o pessoal da retaguarda do FI, na redação, fazer o acompanhamento, já se sabendo que no pré-jogo prevalece o esconde-esconde sobre escalação do time.

Que tal, então, acompanhar dois dias seguidos de assuntos relacionados ao mandante Lanús, cidade que dista 12 quilômetros da capital da Argentina?

E como passageiro de ônibus intermunicipal, me apropriei do bordão ‘quem tem boca vai a Roma’.

Na véspera do jogo, longas filas nas bilheterias eram prenúncio de lotação no Estádio Néstor Díaz Pérez, o La Forteleza, como de fato ocorreu

ALGAS NO FOSSO

Em um daqueles cinco campos do Centro de Treinamento do Lanús, coladinhos ao estádio, a atividade recreativa transcorreu até aos olhos dos abelhudos, mas também prevaleceu suspense sobre escalação do time.

Convicção tinha a diretoria daquele clube, que contratou uma empresa para decorar o salão de festa no próprio estádio, conforme documentei o fato à época.

Por que tanta convicção?

Bom, isso fica por conta do imaginário de cada um.

Quem se dispusesse a conhecer o estádio na véspera do jogo encontraria o portão principal aberto, o que transformou em ‘convite’ para repórter atrevido ir se ‘afundando’.

Aí a surpresa: o fosso que provoca divisória do gramado à dependência social do estádio estava com água empoçada até o ‘pescoço’, por causa de algas que entupiram a canalização.

Enquanto funcionários do clube, no desespero, trabalhavam visando o demorado escoamento, onde estavam os ‘antenados’ dirigentes da Ponte Preta para ao menos catimbar?

‘MAR’ BORDÔ

Três horas antes do início da partida, uma concentração gigantesca de torcedores do Lanús ocorreu em um jardim cuja extensão representa no mínimo o dobro da área do Jardim Carlos Gomes de Campinas.

E área tingida de bordô – uma das cores do clube -, com barulho de fogos de artifício e banda animada, com instrumentos de sopro.

Uma hora antes da partida, aqueles fanáticos fizeram o percurso de cerca de 800 metros ao estádio, onde a festa continuou.

BOCA JUNIOR

Outros dois dias de ‘andança’ por lá serviram para linhagens ‘adjacentes’ ao evento principal.

Calhou, antes da despedida, conferir a festa de comemoração ao ‘Dia do Torcedor do Boca Junior’, 12 de dezembro, defronte ao Obelisco, uma espécie de Largo do Rosário de Campinas ampliado.

Que aglomeração! Que fanatismo!

Como documentar o Boca Junior sem fazer referência ao rival River Plate?

Pena que o presidente do clube à época – o ex-zagueiro Daniel Passarela – condicionou entrevista a pré-agendamento.

Assim, naquele passeio de metrô aos bairros Belgrado e Nuñez, para chegada ao Estádio Monumental, apenas sessão de fotos daquele campo que justifica o termo monumental.

JARDINEIRA

Há nove anos, trafegavam pelas ruas de Buenos Aires ônibus do tipo ‘jardineira’ dos anos 50, sem finalidade de transporte coletivo.

Igualmente circulavam outros veículos que no Brasil são encontrados apenas por colecionadores.

Foi possível atestar negros inseridos no mercado de trabalho – em país que diziam discriminatório -, assim como núcleo habitacional de favela nos arredores da área central daquela capital argentina, quando sequer se imaginava que o país fosse carimbado pelo regime político socialista, com prevalecimento da pobreza.