Adeus a Pupo Gimenez, que pagou o preço da humildade

Adeus a Pupo Gimenez, que pagou o preço da humildade

Adeus a Pupo Gimenez, que pagou o preço da humildade

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Nos veículos de comunicação que passei antes da aposentadoria, havia normas de Redação para não se noticiar suicídio. Já que o portal da casa revelou abertamente que a morte do ex-treinador Antonio Maria Pupo Gimenez foi motivada por suicídio, com tiro na cabeça, não há motivo aqui pra censura.

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Pupo Gimenez, que morreu neste sábado, completaria 85 anos de idade em agosto e há cerca de dez anos já estava fora do mercado de trabalho.

Conheci Pupo no Guarani em 1983, trazido pelo diretor do Departamento Amador da época, Egídio Arruda, para trabalhar a garotada dos juniores.

Era discreto. Falava estritamente o necessário. Preferia ouvir. E sabiamente revelava jogadores para o profissional sem alarde.

Humilde ao extremo, não fez restrição quando lhe indicaram que seu dormitório seria nos alojamentos do Estádio Brinco de Ouro.

O trabalho sério e demonstração de quem conhece ‘o riscado’ garantiram-lhe a condição de técnico tampão dos profissionais até reposição de comando.

A extensa rede de informantes de jogadores Brasil afora permitia que trouxesse jogadores para lapidar na base bugrina.

NETO E EVAIR

Se o ex-meia Neto era condutor de bola até perdê-la, na tentativa de enfileirar adversários, eis que pacientemente Pupo o orientou que futebol é coletivo, que precisaria ter discernimento do adequado momento da individualidade.

O consagrado centroavante Evair chegou ao Brinco de Ouro de Crisólia (MG) na função de ponta-de-lança, ou meia-direita como se dizia na época.

Embora jogador técnico, Evair era lento como condutor de bola e Pupo projetou melhora de rendimento se fixado como centroavante, até porque seria possível aproveitar a boa estatura para cabeceio.

Pois Pupo, como comandante da equipe alternativa do Guarani na Copa Ray-o-Vac de 1984 -torneio da pilha – o preparou para a nova função e o entregou já lapidado ao treinador Lori Sandri – já falecido – da equipe principal.

Na sequência, inexplicavelmente trocaram Pupo Gimenez de função no Guarani. Da base migrou à função de olheiro de jogos dos adversários subsequentes da equipe profissional.

E Pupo oferecia subsídios a comentaristas de rádio quando o entrevistava frequentemente no pré-jogo! Ele tinha leitura privilegiada de bola rolando. Dissertava sobre virtudes e defeitos do próximo adversário do Guarani. Era uma radiografia perfeita, nem sempre praticada pelo comandante da equipe profissional.

Pupo passou na base de São Paulo e Corinthians. No tricolor paulistano, em 1990, chegou a dirigir os profissionais interinamente 18 vezes, com histórico de oito vitórias, sete empates e três derrotas.

O Timão, em 1995, foi escada para chegar à Seleção Sub-20 dos Jogos Pan-americanos da Argentina, naquele mesmo ano.

Depois, o peso da idade praticamente o excluiu do mercado de trabalho.

E quem, como ele, teve vida inteiramente voltada ao futebol, não aceitou a exclusão. Reflexo: depressão e morte.