Abel Ferreira, o jesuíta

Muitas pessoas ainda torcem o nariz para Abel Ferreira

Abel Ferreira vem se destacando dentro de campo pelo trabalho no Palmeiras, mas também fora das quatro linhas com suas entrevistas

abel014
Abel Ferreira dá um show dentro e fora dos gramados (Foto: César Greco/Agência Palmeiras)

Campinas, SP, 24 (AFI) – Abel já me causou forte impacto na sua 1ª entrevista no Sportv ao mostrar sólido conhecimento sobre futebol brasileiro e falou sobre livros, cobrou o baixíssimo número de publicações para um assunto que movimenta dezenas de milhões brasileiros. E naquela primeira entrevista já prometeu publicar um. Dois anos depois, com 2 títulos da cobiçada Copa Liberadores no currículo, seu livro está publicado e na lista dos mais vendidos.

Português como a maioria dos jesuítas que vieram ao Brasil no início da colonização, ele também é discreto como os padres da famosa Companhia de Jesus. Também como Abel, os jesuítas, num primeiro momento, foram menosprezados, tratados como membros do 4º escalão da então poderosíssima Igreja Católica dos séculos XVI e XVII.

Porém os jesuítas não eram apenas ‘padres’, eles eram guerreiros com habilidades na esgrima e tática militares; dependendo da situação eles poderiam atuar como diplomatas ou espiões da Santa Sé. Um grande historiador definiu assim os jesuítas e sua Companhia de Jesus:

“A Companhia de Jesus é o agente mais qualificado, mais perseverante, mais destemido e mais convicto da autoridade papal”.

Nesse aspecto, Abel vem ao Brasil (talvez involuntariamente) para ‘pregar uma nova ideia, um novo conceito, uma nova ideologia sobre futebol’. E como muitos jesuítas – que eram os cascas-grossa da Igreja Católica – ele vem logo suceder um bispo, Jorge Jesus, que apesar de mostrar competência não se adaptou ao calor dos trópicos e voltou para o Velho Continente rapidamente.

Adorado pela torcida do Palmeiras, Abel deu lições duras a técnicos como Cuca, na Libertadores de 2020 e na semifinal da Libertadores 2021, e Renato Gaúcho, nas finais da Copa do Brasil e Libertadores de 2021. E isso irritou muita gente.

Brasileiros gostam de acreditar no talento, minimizam o esforço, a aplicação e preferem acreditar que o acaso vai nos proteger enquanto estivermos distraídos. E isso inclui boa parte da nossa imprensa.

E se Abel tem ‘defeitos’, o que mais irrita é seu amor pela leitura, a forma obsessiva como ele estuda seus adversários e desmonta seus esquemas táticos como uma criança desmonta um Lego. Nas vésperas da final contra o Flamengo em Montevidéu, o Sportv colocou 8 comentaristas em tela divida para darem suas previsões. Os oito apostaram no Flamengo campeão. Os oito!

Como livro no Brasil é ofensa, muitos comentaristas perderam a linha ao criticar Abel, sem mesmo o conhecerem pessoalmente e sem reconhecer suas inegáveis conquistas. Em especial o corintiano Neto, que teve que perder patrocinadores para entender seu erro de análise e sua falta de educação. Outro o veteraníssimo Paulo Morsa, que acabou sendo demitido da Rádio Transamérica.

Independentemente de suas próximas conquistas, o impacto da chegada de Abel foi muito além do Palmeiras e seu legado já está gravado na história do futebol. Para aquele que ainda duvidam, sugiro a leitura do livro Cabeça Fria, Coração Quente.