Sem participação da 'Azzurra', Itália silencia e prefere ignorar a Copa do Mundo

É a terceira vez que a tetracampeã e duas vezes vice "Squadra Azzurra" fica de fora do Mundial

É a terceira vez que a tetracampeã e duas vezes vice "Squadra Azzurra" fica de fora do Mundial

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São Paulo, SP, 24 – Noite de domingo na Itália. Logo após o decepcionante empate entre Brasil e Suíça, em uma rodada na qual Messi já havia perdido pênalti (e a Argentina empatado contra a Islândia), México vencido a Alemanha (e causado um miniterremoto na Cidade do México) e Portugal e Espanha empatado entre si, o apresentador de TV Nicola Savino não teve dúvidas em soltar a piada. “No Mundial das decepções, a Itália saiu na frente”, disse, à frente do programa Balalaika – Dalla Russia Col Pallone.

É a terceira vez que a tetracampeã e duas vezes vice “Squadra Azzurra” fica de fora da Copa do Mundo. Em 1930, primeira edição, a seleção italiana optou por não participar. Seis décadas atrás, em 1958, a exemplo desta, não conseguiu se classificar.

Piadas à parte, nas ruas da Itália pouco se vê ou se ouve sobre a Copa da Rússia. Como se trata de um país apaixonado por futebol e dono de uma das camisas mais pesadas, a atmosfera se aproxima de um velório. No dia da abertura do Mundial, por exemplo, os sites dos dois maiores jornais italianos não destacavam nenhuma notícia sobre o campeonato – do mundo esportivo, as chamadas eram sobre contratações do mercado da bola na intertemporada europeia.

Para assistir ao jogo de abertura, entre Rússia e Arábia Saudita, a reportagem procurou uma cervejaria na província de Milão – daquelas que ostentam diversos televisores e telões pelo ambiente e exibem futebol o tempo todo. Apesar de a cerimônia ter se iniciado às 16h30 e a partida às 17 horas (horários locais), a unidade de Paderno Dugnano de La Birreria Italiana só abriu às 17h30. E, durante todo o jogo, a única mesa ocupada era a nossa.

Os italianos pareciam não estar mesmo se importando com um Mundial sem a Itália. “Estamos tristes, mas não excessivamente. Sabemos que não nos classificamos porque não temos um bom time”, comentou o empresário Michele Galella, de 78 anos, um fã de futebol, proprietário de uma escola infantil em Senago, na Lombardia.

Itália foi campeã pela última vez em 2006

Itália foi campeã pela última vez em 2006

“Em outros tempos, quando a situação do país não era boa, o futebol era um refúgio, uma distração, porque não havia outras satisfações. Hoje, depois de tantos anos, podemos ficar como se estivéssemos apoiados na janela, observando como espectadores o Mundial”.

Pela primeira vez na história, a Copa do Mundo não é transmitida pela estatal RAI na Itália. Em dezembro, com a “Nazionale” já desclassificada, o grupo Mediaset fechou a exclusividade da transmissão.

TORCIDA
E, na falta de um escrete para chamar de seu, por quem torcem os italianos? Tão logo foi confirmada a ausência da equipe, o jornal italiano Corriere della Sera fez uma sondagem para descobrir quais seriam as segundas opções favoritas no país do Calcio. A Argentina liderou o ânimo dos “tifosi” (fãs). Entre as justificativas, Lionel Messi (“que merece ganhar o Mundial”) e a presença de craques que jogam no futebol italiano (Dybala e Higuaín, na Juventus; Biglia, no Milan; Fazio, no Roma; Ansaldi, no Torino).

O coração italiano também bate pela Islândia, seleção que tem tudo para sair como queridinha deste Mundial. O motivo? Bom, sempre que se mescla ineditismo com fama de azarão angaria-se simpatia. Foi ainda muito citada a Alemanha – por pragmatismo, afinal, houve o 7 a 1 contra o Brasil e são os atuais campeões mundiais.

A Suíça foi outra lembrada. Isso porque os italianos do norte gozam de proximidade histórica, geográfica e cultural com esses vizinhos. Além do fato de que torcedores da Lazio nutrem um carinho imenso pelo técnico Vlado Petkovic – principalmente pelo título da Copa da Itália em 2013.

Mas a seleção brasileira não ficou de fora dessa sondagem – apesar da rivalidade histórica e de o Brasil ter sido campeão nas duas vezes em que a Itália foi vice, em 1970 e 1994. Os argumentos para justificar essa preferência foram os de exaltar a história do “futebol-arte”, com direito a citações de ídolos do passado como Pelé, Garrincha e Zico. Alguns ainda lembraram que o técnico Tite, cujo nome é Adenor Leonardo Bachi, tem origem italiana – sua família é da cidade de Mantova, na Lombardia.

Diretor de compras de uma empresa em Solaro, perto de Milão, Denny Tria, de 34 anos, vestiu a amarelinha com orgulho no jogo contra a Suíça. E promete seguir assim até o final do Mundial. No caso dele, a escolha pela seleção brasileira é natural. “Porque é minha segunda família”, disse o italiano, casado com uma arquiteta brasileira e, por isso, viaja ao Brasil uma vez por ano.

“Simpatizo pelo Brasil porque um de meus jogadores favoritos na atualidade é Marcelo”, afirmou o estudante de ciências sociais da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, Gabriele Calista, de 20 anos, citando o lateral-esquerdo da seleção, jogador do espanhol Real Madrid.

VALE ACOMPANHAR!
Morador da cidade de Milão, o empreendedor Lorenzo Fasano, de 58 anos, está acompanhando o Mundial porque gosta “de bons jogos”. É outro que também torce pelo Brasil. “Morei alguns anos em São Paulo, então um pedaço do meu coração também é verde e amarelo”, afirmou. Fasano reconhece que o clima está esquisito na Itália. “Nem se compara com as edições passadas. Nós, italianos, gostamos muito de futebol, então estamos tristes com a ausência”. Denny Tria concorda: para ele, as ruas estão sem “aquela magia de outras Copas”.

Boa parte dos milaneses não está nem acompanhando os resultados. É o caso da arquiteta Flavia Sensale, de 27 anos – apesar de alheia, ela diz gostar do Brasil, mas não sabemos se é por sinceridade ou para expressar simpatia à reportagem. O arquiteto Claudio Fusina, de 45 anos, também prefere nem ligar a TV na hora dos jogos. O designer Luca Mantovanelli, de 25, até está acompanhando, achou interessante a Islândia – mas não torce para ninguém.

O empresário Galella, por sua vez, diz que, com a falta da Itália, o natural é torcer, jogo a jogo, sempre para “o time mais fraco”. E reconhece que, pelo menos, está se divertindo ao assistir a bons jogos – como os 3 a 3 entre Portugal e Espanha.

Estudante da Universidade Livre de Bolzano, Lorenzo Teso, de 25 anos, decidiu torcer pela Inglaterra. “Porque é uma seleção que, apesar de ser muito forte nos últimos anos, ainda não conseguiu um resultado importante”, explicou. Teso admite, contudo, sentir falta da Itália no Mundial. “Ver o time na Copa é uma ocasião para encontrar os amigos, assistir aos jogos, sofrer e torcer juntos”.