Juventus abre sindicância e afasta conselheiro Ivan Antipov

Clube instaurou sindicância contra Ivan Antipov por quebra de decoro; conselheiro vitalício é investigado por suposto envolvimento em fraude milionária.

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Juventus instaura sindicância por quebra de decoro e afasta Ivan Antipov por 20 dias.

São Paulo, SP, 10 (AFI) – O Clube Atlético Juventus instaurou uma sindicância interna e decidiu pelo afastamento preventivo, por 20 dias, do conselheiro vitalício e ex-presidente do Conselho Deliberativo Ivan Antipov, acusado de quebra de decoro e de promover ações que violariam o estatuto social do clube.

A decisão foi formalizada na última sexta-feira (5), assinada pelo atual presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Eduardo Gomes Pedroso, e acompanhada por 21 conselheiros que endossaram a medida. Entre as acusações, estão a alteração não autorizada do estatuto e a abertura de uma ação judicial que, segundo o colegiado, teria “prejudicado a estabilidade institucional” da agremiação.

ACUSAÇÕES INTERNAS E DISPUTA POLÍTICA

A instauração da sindicância envolve um grupo expressivo de conselheiros, entre eles Norival Barbosa, Eduardo Pinto Ferreira, Fábio D’Angelo, Regis R. Roque, Marcio Prioli, Marcos Almeida, Ivaildon Ribeiro, Domingos Sanches, entre outros nomes importantes da estrutura política juventina.

Antipov figura também em investigações sobre suposto desvio de R$ 2,3 milhões, valor que deveria ter sido aplicado em obras no Estádio Conde Rodolfo Crespi, na Rua Javari. Ele e ex-dirigentes do Juventus são apontados em um inquérito que apura suposta apropriação indevida e irregularidades financeiras ligadas ao período de 2019 a 2020.

Em decisão paralela, datada de 27 de outubro, o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu um procedimento disciplinar anterior contra Antipov, impedindo a realização de uma assembleia que poderia resultar em punições ao economista. A medida ainda aguarda decisão definitiva.

INVESTIGAÇÃO POLICIAL APURA FRAUDE E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

A crise institucional ganhou contornos mais graves em 20 de outubro, quando a Polícia Civil abriu inquérito após o Juventus apresentar notícia-crime contra ex-dirigentes. Além de Antipov, também são investigados:

Antonio Ruiz Gonsalez, ex-presidente,

Paulo Troise Voci, ex-vice-presidente,

Raudinei Anversa Freire, ex-diretor de futebol.

O delegado Tiago Fernando Correia, da 3ª Divisão de Investigações sobre Crimes contra a Administração e Lavagem de Dinheiro, aponta indícios de estelionato, associação criminosa e apropriação indébita majorada, supostamente articulados para lesar o patrimônio juventino.

A DEFESA DE IVAN ANTIPOV

A defesa de Antipov classificou as acusações como “perseguição política” e afirmou que o conselheiro busca reparação judicial por dano moral de R$ 100 mil. Em nota, os advogados Ricardo Sayeg e Rodrigo Sayeg declararam:

O Sr. Ivan refuta veementemente qualquer irregularidade e informa que já está adotando todas as medidas legais cabíveis para o esclarecimento dos fatos. A tutela antecipada concedida pela Justiça reforça a ilegalidade dos atos praticados contra ele.

A defesa sustenta ainda que Antipov não era responsável por pagamentos relacionados aos valores investigados e que não exercia função executiva, mas apenas a presidência do Conselho Deliberativo.

POSSÍVEL FRAUDE EM OBRAS DO ESTÁDIO DA JAVARI

O episódio que desencadeou a atual investigação remonta ao acordo firmado em 2022 entre o Juventus e a Prefeitura de São Paulo, envolvendo o potencial construtivo do Estádio da Javari — equipamento tombado como patrimônio histórico.

O clube recebeu R$ 2.362.157,09, montante que deveria ser destinado à revitalização do estádio. Contudo, o valor teria sido usado para quitar empréstimos que supostamente beneficiaram ex-dirigentes.

A sindicância interna identificou dupla lesão ao patrimônio e recomendou o afastamento preventivo de dirigentes e funcionários. A investigação apontou também que o cálculo do potencial construtivo foi feito com valor abaixo do preço de mercado, o que teria reduzido drasticamente o montante arrecadado pelo clube. Segundo especialistas, o Juventus poderia ter recebido mais de R$ 19 milhões.

A Secretaria de Cultura já apresentou proposta de multa que pode levar a uma dívida superior a R$ 5,3 milhões, entre sanções e restituições.

A Polícia Civil analisa o caso na 4ª Delegacia de Lavagem de Bens e Valores, enquanto o clube pede bloqueio de contas e sequestro das quantias envolvidas.