A bicicleta no futebol: as referências à ‘magrela’ no esporte mais popular do mundo

A “magrela”, símbolo de liberdade e equilíbrio, tornou-se metáfora perfeita para descrever um dos esportes mais apaixonantes do mundo

Conhecida popularmente como bicicleta, essa jogada mistura arte e ousadia, e há mais de um século fascina torcedores ao redor do planeta

Futebol
Foto: Reprodução

São Paulo, SP , 30 (AFI) – Poucos movimentos no futebol são tão icônicos quanto o chute acrobático em que o jogador se lança ao ar, de costas para o gol, e acerta a bola com os pés no alto, em um gesto que combina força, elasticidade e precisão.

Conhecida popularmente como bicicleta, essa jogada mistura arte e ousadia, e há mais de um século fascina torcedores ao redor do planeta.

Mas a influência da bicicleta no futebol vai muito além do movimento que dá nome ao gol acrobático. Ela também se manifesta na linguagem, em dribles e até na forma como os jogadores expressam criatividade dentro de campo.

A “magrela”, símbolo de liberdade e equilíbrio, tornou-se metáfora perfeita para descrever um dos esportes mais apaixonantes do mundo.

As origens da bicicleta no futebol

A história da famosa jogada de bicicleta começa no início do século XX. O movimento teria sido criado por Ramón Unzaga, um jogador espanhol radicado no Chile, por volta de 1914.

Durante partidas disputadas em Talcahuano, ele surpreendeu o público ao saltar de costas e chutar a bola por cima da cabeça, marcando gols espetaculares. A jogada era tão impressionante que logo ficou conhecida como “chorera”, referência à cidade onde foi executada pela primeira vez.

Com o passar dos anos, a técnica ganhou o mundo, mas foi no Brasil que ela se tornou parte da cultura futebolística. O responsável por isso foi Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, que brilhou nas décadas de 1930 e 1940. Ele aperfeiçoou o movimento, adicionando plasticidade e precisão, e passou a utilizá-lo com frequência em jogos importantes.

Durante a Copa do Mundo de 1938, Leônidas marcou um gol de bicicleta que encantou o público europeu e transformou o gesto em símbolo do futebol-arte brasileiro.

Graças a ele, o termo “bicicleta” ganhou projeção internacional e passou a ser usado para designar esse tipo de finalização em diversos idiomas. Até hoje, quando um jogador executa uma dessas jogadas improváveis, o estádio inteiro se levanta para aplaudir – uma homenagem indireta ao legado de Leônidas.

Um movimento que exige força e técnica

Fazer um gol de bicicleta não é tarefa simples. A jogada exige força, coordenação e um senso de tempo quase perfeito. O jogador precisa calcular o salto, o movimento das pernas e a trajetória da bola, tudo em questão de segundos. É uma combinação rara de atletismo e improviso, em que o risco de errar é grande, mas a recompensa estética é enorme.

A bicicleta, em si, é uma das expressões mais puras do talento individual no futebol. Não há espaço para o acaso: quem consegue realizá-la com sucesso demonstra domínio corporal e coragem para se lançar no ar, sem saber exatamente como vai cair. É por isso que grandes nomes, como Pelé, Cristiano Ronaldo, Rooney e Zlatan Ibrahimović, têm em seus repertórios gols de bicicleta inesquecíveis.

A plasticidade da jogada também remete ao equilíbrio e à leveza que associamos a uma verdadeira bicicleta profissional. Assim como o ciclista precisa manter o controle entre o movimento e a velocidade, o jogador que executa uma bicicleta deve encontrar o ponto exato entre força e elegância. É um gesto que, de certa forma, simboliza o espírito esportivo: a busca pelo equilíbrio perfeito entre técnica e paixão.

A “pedalada” e o legado linguístico da magrela

A influência da bicicleta no futebol vai além da jogada acrobática. Ela também está presente na linguagem. O termo “pedalada”, por exemplo, é usado para descrever um drible rápido, em que o jogador gira os pés alternadamente sobre a bola para enganar o adversário.

O movimento ficou famoso graças a craques como Robinho, Ronaldo e Cristiano Ronaldo, que o transformaram em marca registrada. Curiosamente, nos países de língua espanhola, o mesmo drible é conhecido simplesmente como “bicicleta”, uma alusão direta ao pedalar, já que o gesto dos pés imita o movimento circular das pernas de um ciclista.

Essa coincidência linguística mostra como o imaginário da bicicleta está profundamente enraizado na cultura esportiva. Em ambas as línguas, a metáfora é a mesma: agilidade, movimento e ritmo, qualidades essenciais tanto para o futebol quanto para o ciclismo.

A “pedalada” também carrega um simbolismo de improviso e alegria, características típicas do futebol latino-americano. É o drible que representa a malícia, a ginga e a criatividade que tornam o esporte tão fascinante.

Bicicleta e cultura: quando o esporte vira arte

A conexão entre bicicleta e futebol transcende o campo de jogo. Ela também aparece na arte, na música e até na publicidade, onde a bicicleta é frequentemente associada à leveza e à liberdade. Muitos artistas retrataram o futebol como uma dança, e a bicicleta é o seu salto mais ousado.

Em filmes e fotografias, o movimento da bicicleta costuma simbolizar o instante em que o jogador desafia a gravidade, transformando um simples jogo em espetáculo. O corpo suspenso no ar, a bola flutuando e a torcida em êxtase formam uma das imagens mais poéticas do esporte.

Leônidas, o pioneiro brasileiro, entendia isso como ninguém. Para ele, o futebol era uma arte performática, e a bicicleta era sua assinatura. Décadas depois, o gesto continua sendo reproduzido em propagandas, murais e até esculturas, como um ícone do talento nacional.

A bicicleta como símbolo de superação

Além do aspecto estético, a bicicleta no futebol também representa superação. Cada jogador que se arrisca a tentar um gol dessa forma desafia os limites do corpo e a lógica do jogo. Assim como o ciclista que encara uma subida íngreme, o atleta que se lança no ar busca algo que vai além do resultado: ele quer provar que é possível transformar esforço em beleza.

Essa relação entre o esporte e a bicicleta reforça a ideia de que ambos compartilham valores comuns — resistência, equilíbrio e ousadia. Não por acaso, muitos jogadores profissionais usam o ciclismo como parte do treinamento físico, já que pedalar ajuda a fortalecer as pernas e melhorar o condicionamento cardiovascular.

A presença da bicicleta fora dos gramados

Fora do campo, a bicicleta também se tornou parte da rotina dos jogadores e torcedores.
Em grandes centros urbanos, como São Paulo, Londres e Madri, é comum ver atletas utilizando bicicletas para se deslocar até o treino ou como forma de lazer. A magrela, nesse contexto, simboliza simplicidade e sustentabilidade, valores que dialogam com o espírito esportivo moderno.

Nas últimas décadas, a bicicleta ganhou ainda mais visibilidade com o aumento das ciclovias e o incentivo à mobilidade ativa. O futebol, por sua vez, passou a incorporar essa estética em campanhas publicitárias e eventos beneficentes, reforçando a ligação entre esporte, saúde e meio ambiente.

Com a Black Friday se aproximando, inclusive, muitos torcedores aproveitam para adquirir equipamentos esportivos, desde camisas de seus times até acessórios de ciclismo, aproveitando os descontos para manter uma vida mais ativa. O interesse crescente por bicicletas de qualidade mostra como a paixão pelo esporte pode se expandir para diferentes aspectos do cotidiano.

A imortalidade da bicicleta no futebol

Mesmo com o passar dos anos, a bicicleta continua a encantar novas gerações. As transmissões em alta definição e os replays em câmera lenta tornaram o movimento ainda mais impressionante. Hoje, quando um jogador acerta uma bicicleta perfeita, o mundo inteiro compartilha o momento nas redes sociais, perpetuando o encanto dessa jogada clássica.

Em um esporte que valoriza tanto a coletividade, a bicicleta se destaca como o instante de genialidade individual. É o lampejo de criatividade que rompe o padrão, o gesto que transforma uma partida comum em algo memorável.

Mais do que uma jogada, a bicicleta é um símbolo universal do futebol-arte — uma mistura de coragem, improviso e emoção. E, assim como a magrela que inspirou seu nome, ela continua sendo um instrumento de liberdade, equilíbrio e expressão pessoal.

Relação profunda

A relação entre a bicicleta e o futebol é mais profunda do que parece. Vai do vocabulário às jogadas, do treino à cultura popular. Ramón Unzaga e Leônidas da Silva, cada um a seu modo, ajudaram a transformar um movimento acrobático em uma obra de arte atemporal.

E, ainda hoje, cada vez que um jogador se arrisca em uma bicicleta ou executa uma pedalada desconcertante, o mundo é lembrado de que o futebol, assim como a vida sobre duas rodas, é feito de equilíbrio, ousadia e paixão.