Vila dos Mortos tem na várzea o Carniça FC, time que não cheira bem – também pudera né com esse nome. O artilheiro é Zé Corvo, disparado o melhor jogador do campeonato, chegando a carrregar o seu time nas costas sozinho. Zé foi criado na Vila, tem 1,98 de altura, pouca fala, mal encarado, mau vestido e com um bafo inconfundível.

Na rodada final do quadrangular as disputas foram entre Carniça FC x EC Sandrinhas – equipe essa formada por atletas do sexo frágil, mas dos frágeis masculinos – e Filho da Mãe x Lua Murcha.

Os sandrinheiros precisavam vencer a partida e torcer para que o Filho da Mãe pelo menos empata-se com o Lua Murcha, só assim ficariam com o título.

Os carniceiros dependiam apenas deles, uma simples vitória o credenciavam como campeão varzeano. O Lua Murcha estava fora da disputa e o Filho da Mãe precisava de uma vitória e uma derrota dos carniceiros para sagrar-se campeão.

No domingo o comentário era geral na Vila de que o título já era do Carniça, isso pelo fato de ter o matador Zé Corvo. Mas a história não foi bem assim, e no final título foi parar nas mãos do Filho da Mãe, que venceram o Lua Murcha.

Os carniceiros perderam e Zé Corvo foi o pior em campo. O matador teve um probleminha extra-campo durante a semana que antecedeu a decisão, pois foi visto se perdendo na noitada com uma galerinha, no interior de uma perua Kombi num local fora da Vila.

No dia do pega final, já na concentração, uma fita com os principais lances dos jogos dos sandrinheiros foi utilizada pelo técnico Urubu, do Carniça FC, que é pai de Zé Corvo. A fita era para que todos ficassem sabendo a forma do adversário jogar. O problema foi que a ‘bendita fita’ foi trocada e as imagens exibidas para todos os jogadores foi a de Zé Corvo – no apice da bagunça durante a semana – saíndo do interior de uma cartola gigante, vestido de pombinha brança, exalando Lulu, cantando Coooooonnnnceiçãoooo………todos ficaram chocados.

O pai e experiente técnico Urubu procurou segurar a onda e ordenou que todos ficassem de boca fechada para não atrapalhar o jogo e que Zé Corvo recebesse o maior respeito. Tudo foi cumprido e a moral do artilheiro foi resgatada, tudo pela união demonstrada por seus companheiros e pela vontade de conquistarem o título inédito do varzeano da Vila dos Mortos.

O que os carniceiros não esperavam é que no dia do jogo a torcida do time do rival Filho da Mãe – que já tinha vencido seu jogo e dependia da derrota do Carniça – fossem ao estádio assistir a partida, mas com um detalhinho. Todos vestidos de pombinhas brancas, portando cartolas, cheirando Lulu e cantando Cooooonnnnnceiçãoooooo eeeooo…..Coooooonnnnnnnceiçãooooooo eeoooo.

Um forte abraço e até mais !