Clodoaldo De Checchi: Lesões no futebol: como explicar tanta incidência?
um aspecto está preocupando os clubes. Trata-se da elevada incidência de lesões nos jogadores. Especialistas e profissionais da área médica e do treinamento
Campinas, SP, 13 (AFI) – O Campeonato Brasileiro está entrando na reta final de definições. Na Série A para determinar o campeão e as equipes que serão rebaixadas, bem como as que se classificarão para a Copa Libertadores da América e Sul Americana de 2011. Na Série B para qualificar as quatro equipes que farão parte da elite do futebol brasileiro no próximo ano. Entretanto um aspecto está preocupando os clubes. Trata-se da elevada incidência de lesões nos jogadores. Especialistas e profissionais da área médica e do treinamento como os preparadores físicos, fisiologistas, médicos e fisioterapeutas fazem de tudo numa tentativa de recuperar seus atletas para a jogo seguinte. Diante de tantas ocorrências de contusões, o Brasil pergunta: o que está acontecendo com nossos jogadores de futebol?
O CALENDÁRIO ANUAL
Os campeonatos disputados durante o ano são distribuídos de acordo com o seguinte cronograma de datas formalizadas pela Confederação Brasileira de Futebol – CBF: Campeonatos Regionais (3ª semana de Janeiro a 1ª semana de maio); Copa Libertadores da América (2ª semana de Fevereiro a 2ª quinzena de Julho); Copa do Brasil (2ª semana de fevereiro a 1ª semana de julho); Campeonato Brasileiro da Série B (2ª semana de Maio a 4ª semana de Novembro); Campeonato Brasileiro da Série A (2ª semana de Maio a 1ª semana de Dezembro).
Destaca-se que muitos times disputam dois campeonatos simultaneamente no 1º e 2º semestres do ano. Desta forma, torna-se cada vez mais importante, por parte dos clubes, uma elaboração da periodização anual, contemplando equalização e planejamento dos treinamentos técnicos, físicos e táticos, contemplando os macrociclos, mesociclos e microciclos, o período da pré-temporada (início anual) e inter-temporada (entre o término e começo de campeonatos), levando-se em consideração a preparação geral, preparação específica, pré-competitiva e competitiva, bem como a aplicação de métodos de recuperação eficientes para os jogadores, minimizando assim o processo de incidência de lesões. A estruturação do treinamento é hoje um importante fator para obtenção do resultado positivo da temporada anual do futebol, enquanto que treinos orientados apenas de forma empírica perderam sentido e eficácia.
O ELEVADO NÚMERO DE JOGOS NA TEMPORADA
Com o calendário anual do futebol brasileiro completamente preenchido pelos campeonatos, aumentaram a quantidade de jogos realizados pelos clubes, tanto da Série A como na Série B. Para se ter um panorama da grave situação, já há clube do futebol brasileiro que completará a 80ª partida neste mês de outubro, enquanto que um clube europeu está completando neste mesmo período seu 60º jogo. Outro agravante são as características dos campeonatos disputados no Brasil. O Brasileiro das Séries A e B iniciam no mês de maio e são disputados até o final da temporada, correspondendo a fração exata de 8/12 (67%) do calendário anual.
Simplesmente um percentual exageradamente elevado para um campeonato de “pontos corridos”. Assim, o grande número de jogos faz com que o calendário do futebol brasileiro seja preenchido em todas as suas datas, contemplando em boa parte da competição, dois eventos em uma mesma semana, agravado pelo desgaste das longas viagens de deslocamento das equipes. Nestas condições, parece que o jogador tem pouca ou nenhuma condição de se recuperar totalmente entre as partidas. Desta forma, os clubes são obrigados a investirem em plantel numericamente maior e mais qualificado. Entretanto, poucos clubes tem “fôlego” financeiro para montagem de elenco que responda em qualidade e desempenho por toda temporada. Além disso, comparando o futebol brasileiro com o futebol europeu, verifica-se que no Brasil o período da pré-temporada é insuficiente, correspondendo a apenas 3 semanas, ou seja, metade do período do futebol italiano (6 semanas), por exemplo. Vale ressaltar que a pré-temporada constitui base de sustentação para o desempenho dos jogadores na temporada.
AS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS PROVOCADAS PELO JOGO
Existem muitos períodos dos Campeonatos ao longo do ano em que os jogos ocorrem duas vezes por semana, dificultando a possibilidade de uma recuperação total dos jogadores. Isto pode provocar uma sobrecarga muscular, levando a diferentes graus de microtraumas no músculo, tecidos, ossos e articulações, cujo estresse (fadiga) pode progredir para traumas significativos, comprometendo o desempenho dos atletas, devido às repetidas e intensas contrações. Assim, a demanda de 2 jogos por semana eleva os riscos de lesões com declínio do desempenho dos jogadores, devido à fadiga e prejuízo muscular e/ou inflamação.
O futebol tem sofrido muitas mudanças nos últimos anos, principalmente, em função das exigências físicas cada vez maiores, o que obriga os atletas a trabalharem perto de seus limites máximos de exaustão, com maior predisposição às lesões musculares. A intensidade de desconforto no músculo aumenta nas primeiras 24 horas após o jogo, com pico entre 24 e 72 horas, minimizando-se até 5 a 7 dias após a partida. O excesso de jogos entre intervalos curtos provoca significativas alterações fisiológicas e declínio das respostas de desempenho do jogador, além de exigir rigoroso cuidado no processo de sua recuperação. Na lesão muscular, as microfissuras ocasionam ruptura da membrana celular, fazendo com que algumas proteínas e enzimas se desloquem para a corrente sanguínea.
Um estudo de Ispirlidis e colaboradores (2008), mostrou as seguintes alterações fisiológicas após uma partida de futebol: diminuição do desempenho do salto vertical, retornando a condições de pré-jogo 72 horas após a partida; decréscimo da condição de 1 RM (repetição máxima), atingindo seu menor valor em 48 horas pós-jogo, retornando para valores pré-jogo somente 96 horas após a partida; declínio da habilidade de sprint (20 m), atingindo seu valor mais baixo 48 horas depois, retornando a níveis pré-jogo após 120 horas; aumento da concentração de leucócitos imediatamente, persistindo por apenas 24 horas, normalizando-se posteriormente; elevação imediata da CK (creatina kinase) e do LDH (lactato desidrogenase) em valores de 600 U/L e 350 U/L, respectivamente, atingindo o pico 48 horas depois (próximos a 1000 U/L e 400 U/L, respectivamente), retornando a valores fisiológicos 96 horas pós-jogo (500 U/L e 175 U/L, respectivamente); aumento da concentração de ácido úrico 24 horas após o jogo, com pico 72 horas pós-partida (56 mg/L), normalizando-se 120 horas após o jogo (42 mg/L); elevação da concentração de cortisol imediatamente após a partida (aproximadamente 420 mmol/L), normalizou-se daí em diante (240 mmol/L); declínio imediato dos níveis de testosterona livre, de valores próximos a 7,0 mmol/L no momento pré-jogo para aproximadamente 5,75 mmol/L, retornando a níveis de 6,5 mmol/L 144 horas (6 dias) após o jogo; elevação da concentração de interleucina 6 (IL-6) imediatamente após o jogo (próximo a 4,5 pg/ml), normalizando-se 24 horas depois (1,0 pg/ml), provavelmente pela reposição imediata de carboidratos.
Resumidamente, a intensidade do exercício pode ser mensurado pela análise sanguínea das concentrações das enzimas creatina kinase (CK) e do lactato-desidrogenase (LDH), cujos valores aumentam imediatamente após o jogo, podendo retornar a valores fisiológicos 96 horas pós-partida. A elevação dos níveis da CK e LDH caracteriza evidência indireta de microtrauma muscular após um jogo. O estado catabólico que acompanha os níveis elevados de cortisol pode resultar numa diminuição de desempenho físico pela redução da síntese protéica, prejuízo das proteínas contráteis, neurotransmissores e força muscular, resultando na redução da resistência e potência muscular.
Nos treinamentos, os níveis de CK plasmática também podem permanecer elevados por vários dias pós-exercício, processo resultante do efeito acumulativo das sessões de treino (efeito de repetição). A creatina kinase é vista como o mais indicado marcador de severidade e intensidade do exercício. Desta forma, o jogo de futebol induz para respostas inflamatórias transitórias, bem como declínio do desempenho anaeróbio nas 72 horas pós-jogo, podendo chegar até 96 horas ou mais para alguns casos. Estes resultados indicam claramente a necessidade de uma recuperação completa dos jogadores após um jogo e entre as sessões de treino.
Desta forma, o jogador de futebol não é capaz de realizar nível máximo intenso de exercício nos primeiros 3 a 4 dias após uma competição mais recente. Neste sentido, torna-se fundamental a equalização e equilíbrio das atividades do microciclo, que pode ser definido como o período semanal entre o intervalo de jogos destinados à recuperação e treinamento dos jogadores. As adaptações fisiológicas positivas ocorrem quando a intensidade, a duração e a carga de trabalho diário dos exercícios são apropriadas. Se for aplicado ao jogador de futebol cargas de treinamentos excessivos e prolongados concomitantemente associada a recuperação parcial ou insuficiente deste jogador, a chance de lesão no jogo seguinte será aumentada.
AS INCIDÊNCIAS DAS LESÕES NO FUTEBOL
Uma lesão no futebol é definida como qualquer tipo de ocorrência de origem traumática ou de sobreuso, da qual resulta incapacidade funcional, sofrida por um jogador, em competição ou em treino, que o obrigue a interromper a sua atividade e o impeça de participar em, pelo menos, um treino ou jogo.
Um estudo realizado por De Checchi (2010) quantificou estatisticamente a incidência das principais lesões de jogadores profissionais. Baseado pela quantificação investigativa longitudinal e por análise descritiva durante os doze meses (janeiro a dezembro) da época desportiva de 2009, foram coletadas as principais lesões dos atletas profissionais de oito conceituadas equipes do futebol brasileiro, com sedes nas cidades de São Paulo, Campinas, Santos, Belo Horizonte e Curitiba, que disputaram os Campeonatos Regionais (Paulista, Mineiro e Paranaense), Copa do Brasil, Taça Libertadores da América e Campeonato Brasileiro.
O clube que apresentou a maior incidência de lesões (24,5% do total registrado) disputou quatro campeonatos naquele ano (o regional, a Copa do Brasil e, simultâneamente, o Brasileiro da Série A e a Copa Sul-Americana), cujo desempenho mostrou-se declinado no 2º semestre, enquanto que o clube que apresentou a menor incidência de lesões (7,5% do total das lesões) disputou três campeonatos em 2009: o regional, a Copa Libertadores da América (ambos no 1º semestre) e o Campeonato Brasileiro.
As ocorrências das principais lesões dos atletas alcançaram um total de 171 registros (n=171), sendo destacados: momentos das ocorrências distribuídos nos períodos de jogo (0-15 minutos, 15 a 30 minutos e 30 a 45 minutos do 1º tempo e do 2º tempo); ocorrências das lesões nos treinamentos; distribuição por posição tática dos jogadores; bem como nas diversas faixas etárias (até 20 anos, de 21 a 30 anos, de 31 a 35 anos e acima de 35 anos); além dos tipos de lesões ocorridas nos membros superiores (ombro, braço, cabeça); tipos de lesões ocorridas nos membros inferiores (púbis, adutor, anterior e posterior da coxa, panturrilha, e tornozelo), quadril e região lombar; e finalmente, registros bimestrais e semestrais, períodos de afastamento e de recuperação dos jogadores lesionados.
Os índices mostraram que 42,69% das lesões ocorreram durante as ações dos jogadores nos jogos (1º tempo e 2º tempo); 12,28% dos jogadores acusaram as lesões somente após o encerramento dos jogos; 45,03% das lesões dos jogadores ocorreram durante as sessões de treinamentos das equipes nos microciclos.
As maiores ocorrências das lesões foram verificadas na faixa etária entre 26 a 30 anos (40,35%) e entre 21 a 25 anos (36,25%), ambas representando 76,60% do total das lesões; 16,96% entre 31 e 35 anos, enquanto que as ocorrências das lesões foram bem menores em jogadores com idade até 20 anos (4,68%) e também em jogadores com idade acima de 35 anos (1,76%).
Considerando-se apenas os registros nos jogos (n = 73), a distribuição das ocorrências das lesões apresentou-se da seguinte forma: a) 1º tempo: 10,96% no período de 0’ a 15’; 24,65% no período de 15’ a 30’ e 19,18% no período de 30’ a 45’, totalizando 54,79% das lesões neste tempo de jogo; b) 2º tempo: 13,70% no período de 0’ a 15’; 20,55% no período de 15’ a 30’ e 10,96% no período de 30’ a 45’, representando o total de 45,21% das lesões neste tempo regulamentar. Assim, as ocorrências das lesões foram mais elevadas no 1º tempo comparadas com as lesões do 2º tempo (54,79% x 45,21%).
O estudo mostrou que as incidências maiores foram registradas no período de 15’ a 30’ dos dois tempos de jogo (24,65% no 1º tempo e 20,55% no 2º tempo), o que pode identificar uma provável ocorrência da fadiga dos atletas nestas faixas de jogo, caracterizada principalmente por distúrbios na homeostase de íons no músculo e comprometimento da excitabilidade do sarcolema (fadiga temporária). As lesões no período de 0’ a 15’ do 1º tempo podem estar relacionadas com aquecimento insuficiente dos jogadores antes da partida, ou ainda, sobrecarga elevada da atividade de aquecimento pré-jogo, enquanto que as prováveis justificativas das lesões no período de 0’ a 15’ do 2º tempo podem estar associadas à ausência do reaquecimento muscular dos futebolistas no intervalo de jogo.
As lesões do período 31’ a 45’ foram maiores no 1º tempo comparadas com o 2º tempo (19,18% x 10,96%). Neste período dos dois tempos de jogo, as lesões podem estar relacionadas tanto com a fadiga temporária (distúrbio na homeostase de íons) como pela direta relação com a fadiga através da depleção do glicogênio muscular. As lesões do período 31’ a 45’ foram maiores no 1º tempo comparadas com o 2º tempo (19,18% x 10,96%). Neste período dos dois tempos de jogo, as lesões também podem estar relacionadas tanto com a fadiga temporária (distúrbio na homeostase de íons) e/ou relação com a fadiga através da depleção do glicogênio muscular. Vários estudos tem mostrado que a fadiga acontece no final de um jogo, podendo ser causado pela baixa concentração de glicogênio muscular. A quantidade de sprints, corridas de alta intensidade e distâncias percorridas são diminuídas no 2º tempo, comparadas com o 1º tempo, podendo indicar que o desempenho é inibido no 2º tempo e a fadiga tende a ocorrer no final do jogo.
Os maiores índices de lesões por posição tática foram verificados em jogadores meio-campistas (30,42%), seguidos pelos atacantes (28,65%) e zagueiros (23,39%), enquanto que os jogadores laterais apresentaram o menor percentual (13,45%), para as funções de linha. Já o goleiro a incidência foi de 4,09%.
Os períodos de afastamento e de recuperação responderam de acordo com as características individuais dos jogadores, metodologia médica e fisioterápica, bem como do tipo da lesão. Deste modo, 16,96% se recuperaram após 1 semana de tratamento (lesões de pouca gravidade); 19,3% representaram lesões graves a muito graves (de 2 meses a 8 meses de recuperação). O maior percentual ocorreu na inatividade de 2 semanas (32,75%), seguido do afastamento de 3 semanas (21,05%). O período de 4 semanas de tratamento registrou 9,94% do total.
Das 171 lesões registradas, 9,36% ocorreram no 1º Bimestre do ano (janeiro e fevereiro); 11,70% no 2º Bimestre (março e abril); 12,28% no 3º Bimestre (maio e junho); 15,79% no 4º Bimestre (julho e agosto); 38,00% no 5º Bimestre (setembro e outubro) e 12,87% no 6º Bimestre (novembro e dezembro). Desta forma, o maior percentual foi observado no 2º semestre (66,66%) comparado com o percentual do 1º semestre (33,34%). Estes achados podem estar relacionado com o período longo da competição disputada (Campeonato Brasileiro), caracterizada por longas viagens, próxima ao final da temporada anual e notável declínio da performance dos jogadores.
Na distribuição do total das lesões pelas partes do corpo humano, os resultados foram os seguintes: cabeça 1,75%; ombro 1,17%; braço 2,34%; região lombar 1,75%; púbis 1,18%; adutor 12,28%; coxa 33,92%; joelho 23,39%; tíbia (fratura por estresse) 1,17%; panturrilha 5,26%; tornozelo 15,79%. Assim, 94,74% representaram registros nos membros inferiores, quadril e região lombar (n = 162), enquanto que apenas 5,26% incidiram nas partes dos membros superiores como cabeça, ombro e braço.
Das 162 lesões dos membros inferiores, quadril e lombar, 35,8% ocorreram na coxa; 24,7% ocorreram no joelho; 16,67% no tornozelo; 12,96% no adutor; 5,56% na panturrilha; 1,85% na região lombar; 1,23% no púbis e 1,23% na tíbia (fratura).
Na distribuição das lesões dos músculos da coxa, 37,93% ocorreram nos músculos anteriores denominados quadríceps (extensores do joelho) e 62,07% ocorreram nos músculos posteriores conhecidos por isquiotibiais (flexores do joelho).
Dos 40 registros das lesões de joelho, 30% representaram tendinite patelar; 35% entorse; 25% ruptura do ligamento cruzado anterior; 5% ruptura do ligamento cruzado posterior e 5% ruptura do ligamento colateral medial.
Resumidamente, dentre das especificidades das lesões ocorridas nos membros inferiores, quadril e região lombar (n=162), a distribuição detalhada apresentou-se da seguinte forma: a) coxa: 35,8%, sendo 37,93% contraturas, 36,21% estiramentos e 25,86% distensões; b) joelho: 24,7%, sendo 30% tendinites patelares, 35% entorses, 25% rupturas do ligamento cruzado anterior, 5% rupturas do ligamento cruzado posterior e 5% rupturas do ligamento colateral medial; c) tornozelo: 16,67%, sendo 33,33% tendinites, 40,74% entorses e 25,93% rupturas ligamentares; d) adutor: 12,96%, sendo 47,62% estiramentos e 52,38% distensões; e) panturrilha: 5,56%, sendo 33,33% contraturas, 44,44% estiramentos e 22,23% distensões; f) lombalgia: 1,85%; g) pubalgia: 1,23%; h) tíbia: 1,23% (fratura por estresse).
Pode se citar ainda que sobrecargas de treinamentos acima dos limites toleráveis individuais dos jogadores, recuperações insuficientes entre os jogos e demandas físicas excessivas dos jogos podem acarretar distúrbios e anomalias cardiovasculares como, por exemplo, hipertrofia ventricular esquerda, arritmias, isquemia e elevação da pressão arterial.
AS LESÕES AUMENTARAM NO 2º SEMESTRE DE 2010
O Campeonato Brasileiro entra na reta final e decisiva, restando apenas dez rodadas para a finalização das Séries A e B. A maioria dos clubes se enfraqueceram e perderam jogadores importantes, tudo por conta das lesões. Os problemas mais comuns tem sido as lesões musculares e as lesões de joelho, que requerem um tempo maior de recuperação, principalmente em caso de ruptura ligamentar.
Os meses de setembro e, até o momento, o início de outubro de 2010 não serão esquecidos pela maioria dos clubes do futebol brasileiro. Vale lembrar que o mês de setembro foi o que acumulou maior número de rodadas do Campeonato Brasileiro, totalizando nove rodadas, fator que pode ser determinante para o excesso do desgaste e esforço físico dos jogadores. As incidências de lesões dos jogadores passaram dos limites de controle da área médica. As equipes não estão conseguindo recuperar e escalar seus jogadores para os jogos, tornando seus elencos reduzidos e fragilizados.
Vale observar que em 2009 não foi diferente. Segundo o estudo de De Checchi, o maior percentual das lesões quantificadas (38% do total) foram verificadas no 5º bimestre daquele ano (setembro e outubro), seguido dos 15,79% do total das ocorrências registradas no 4º Bimestre (julho e agosto), valores muito maiores que os 9,36% do 1º bimestre (janeiro e fevereiro) e os 11,70% do 2º bimestre (março e abril), mostrando que as lesões aumentaram significativamente no 2º semestre de 2009 (66% do total). Isto parece mostrar que os jogadores não conseguem sustentar performance durante o passar dos meses, e pior, perdem progressivamente o rendimento durante o decorrer da temporada, de modo que o aumento da fadiga se sobrepõe diretamente com a sequência dos jogos dos campeonatos.
Parece que a temporada de 2010 não está sendo diferente. Um batalhão de jogadores encontram-se em tratamento no Departamento Médico dos clubes. Para citar alguns exemplos, somente neste Brasileirão já ocorreram diversas baixas graves como no Santos o craque Paulo Henrique Ganso, que sofreu ruptura do ligamento cruzado do joelho esquerdo em 25 de agosto (previsão de retorno: fevereiro de 2011), Felipe (derrame na articulação do joelho direito), Edu Dracena e Marquinhos; no Fluminense algumas baixas foram Fred, que se lesionou em julho (edema na panturrilha da perna esquerda), retornou no início de outubro, voltando a sentir um conforto muscular em jogo recente, além de Emerson, Deco (estiramento da coxa direita), Diguinho e Fernando Henrique; no Internacional índio e Rafael Sóbis (lesão na coxa direita), o atacante Alecsandro, que se lesionou numa partida em agosto pela Libertadores da América; no Grêmio Souza e o atacante Borges (fratura na tíbia ) que só deve retornar em 2011.
No Corinthians o fenômeno Ronaldo (edema na panturrilha da perna direita), Chicão, Dentinho (lesão muscular na coxa direita, rompimento do músculo posterior da coxa esquerda), Jorge Henrique (lesão muscular de grau 3), Roberto Carlos, Jucilei e Ralf; no Vasco da Gama o grande número de lesionados vem chamando a atenção, dentre eles o lateral esquerdo Hernani, o meia Magno (recentemente operado), o atacante Caíque (lesão grave no joelho esquerdo), o zagueiro Douglas, o atacante Nunes (ruptura de adutor), o atacante Rafael Coelho (estiramento na coxa direita), o lateral esquerdo Ramon (estiramento da coxa esquerda), o zagueiro Titi (estiramento na coxa); no São Paulo Ilsinho, Júnior César (ruptura do tendão de Aquiles do pé esquerdo); no Goiás Rafael Tolói; no Botafogo Fábio Ferreira (ruptura do ligamento cruzado do joelho esquerdo), Marcelo Mattos, Maicosuel (ruptura do ligamento cruzado e deslocamento ósseo do joelho esquerdo) e Herrera; no Atlético-MG Diego Tardelli; no Avaí Marcinho Guerreiro; no Atlético-GO o volante Ramalho (ruptura do tendão de Aquiles da perna esquerda); no Ceará o goleiro Diego (ruptura do ligamento cruzado do joelho direito); no Grêmio Prudente o goleiro Márcio (ruptura do ligamento cruzado do joelho direito); no Palmeiras o atacante Ewerthon (trauma na cartilagem do joelho esquerdo), o goleiro Marcos (entorse no joelho esquerdo); no Vitória o lateral Eduardo (fratura na fíbula e luxação do tornozelo esquerdo), dentre muitos outros.
Para o médico da Seleção Brasileira, Dr. Luiz Runco (ortopedista com especialização em joelho) o futebol está cada vez mais rápido, disputado com mais força, com menos espaço. Nesse ritmo as contusões só vão aumentar e os problemas são decorrência da forma como se joga futebol atualmente, não só no Brasil como também na Europa. Não há como ser preventivo. Com dois jogos por semana é fundamental que o corpo descanse para poder aguentar as demandas das competições. É aí que o jogador tem que colaborar. Tem que aproveitar o curto intervalo entre as partidas para se recuperar., dormir bem, se alimentar corretamente. No final, acaba aumentando os jogadores em tratamento no departamento médico dos clubes, lamenta Runco.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O elevado percentual de lesões que se tem verificado nas sessões de treinamentos e nos jogos indica um panorama alarmante e preocupante. Jogadores vem se lesionando em percentuais semelhantes tanto nos jogos como nos treinos (microciclos), inclusive nos trabalhos regenerativos do dia seguinte após o jogo. Isto mostra que as condições fisiológicos e a musculatura enrijecida dos jogadores nos dias seguintes ao pós-jogo são determinantes para estas ocorrências.
Atualmente tem sido difícil encontrar um ponto de equilíbrio entre a equalização da periodização anual em conformidade com as exigências dos campeonatos disputados pelos clubes, bem como o ponto ideal para uma recuperação completa dos jogadores entre os jogos. Período insuficiente de preparação na pré-temporada, campeonatos longos, quantidades elevadas de jogos, intervalos curtos entre as partidas, viagens cansativas, recuperação insuficiente ou incompleta dos jogadores entre os jogos, pouca consciência profissional dos jogadores quanto à disciplina da alimentação, sono e descanso, sobrecarga elevada nas atividades de treinos entre os jogos (microciclos), condições desfavoráveis do campo de jogo e campo de treino, heterogeneidade dos jogadores, elenco reduzido, possível retorno antecipado de jogadores lesionados sem ter sido alcançado a recuperação completa e elenco reduzido são fatores importantes a serem considerados para tentar explicar as elevadas incidências de lesões no futebol brasileiro.
Calendários mais equilibrados e racionais, bem como equalização de treinamentos e formas de recuperação dos jogadores devem ser analisados com muito critério, atenção e seriedade por parte dos comandantes, dirigentes do futebol brasileiro, profissionais da área médica e do treinamento. Já não basta mais fechar os olhos para uma realidade dura e cruel. Parece ser este o momento oportuno para se discutir uma reformulação estrutural do futebol pentacampeão.
Texto:
Clodoaldo Galiano De Checchi
Fisiologista do Futebol
Especialista em Fisiologia e Treinamento Desportivo
Mestrando e Pesquisador em Fisiologia Cardiovascular e Biofísica
(Laboratório Cardiovascular do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituo de Biologia – UNICAMP)






































































































































