Reciclar sempre; assim é o treinador Luxemburgo

Esse treinador Vanderlei Luxemburgo surpreende a cada dia pela capacidade de se reciclar

Reciclar sempre; assim é o treinador Luxemburgo

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Esse treinador Vanderlei Luxemburgo surpreende a cada dia pela capacidade de se reciclar.

Na passagem pela Ponte Preta entre 1992/93 tivemos ríspida discussão quando tentou me convencer sobre a validade de improvisar o lateral-direito Valmir como volante.

O argumento era que, embora o atleta chegasse com facilidade ao fundo de campo, havia imperfeição no cruzamento, e que seria preferível explorar a velocidade dele por dentro, quando seu time retomasse a posse de bola, pois assim, em vez de cruzamento, optaria pelo passe curto para que um dos atacantes terminassem a jogada.

Na ocasião não me convenci da justificativa, contra-argumentei que pelo meio havia congestionamento, e na prática a experiência de mudança de posição de Valmir não prosperou na Ponte Preta.

VAMPETA

E não é que em 1998, na passagem pelo Corinthians, na retomada de bola do campo defensivo, Luxa voltou a colocar em prática saída rápida ao ataque por dentro, porém em vez de Valmir o cumpridor do papel foi o volante Vampeta, e a estratégia foi bem-sucedida, em ano que o Timão conquistou o título brasileiro.

À época Luxa subestimava a capacidade de repórteres enxergarem o jogo da bola.

SANTOS

Em 1997, quando levou o Santos ao quadrangular decisivo do Paulistão, realizou treino tático pra explorar o jogo aéreo ofensivo de sua equipe em partida da semifinal contra o Corinthians, sem qualquer restrição à mídia.

Tudo aberto em um dos campos na cidade de São Roque.

A única recomendação era para que as câmeras fossem viradas ao lado oposto.

Na entrevista coletiva, programou cinco minutos para a mídia impressa e outros cinco à eletrônica.

Em seguida, quando ingenuamente propus que conversássemos, como nos tempos de Ponte, respondeu ironicamente: “Cadê o seu bloquinho pra anotações. Não marcou nada? Acabou o tempo pra todo mundo”.

No dia seguinte comprei todos jornais da capital paulista e apenas a finada edição impressa de A Gazeta Esportiva fez citações de jogadas ensaiadas de bola aérea, enquanto os demais mostraram apenas informações genéricas.

Claro que na reportagem que fiz ao igualmente finado jornal Diário do Povo destrinchei a estratégia de Luxa, que no frigir dos ovos sucumbiu diante do Corinthians, que venceu a partida por 4 a 3.

Pois o tempo passou e parcela da mídia que enxerga futebol superficialmente havia cravado Luxa como treinador ‘sepultado’, até que ele provou estar ‘vivíssimo’ ano passado, ao comandar o modesto time do Vasco naquele momento.

RESMUNGO

Alguns céticos ainda resmungaram quando o Palmeiras o contratou.

Por sinal, os mesmos que não conseguem distinguir aquilo que o profissional coloca em prática no elenco palmeirense.

Ainda não tiveram percepção da leveza no tripé de meio de campo para condução de bola, deslocamentos para continuidade de jogadas, e capacidade de desarme preferencialmente sem recorrer às faltas.

É isso que Ramirez, Gabriel Menino e Patrick de Paula têm feito.

Luxa valoriza saída de bola qualificada da defesa, mas não despreza aquela alongada e qualificada da escola argentina de décadas passadas, quando há percepção de provocar o confronto na base do ‘um contra um’.

E quando o retrancado adversário tenta fechar espaços, jogadores palmeirenses são condicionados à virada rápida de jogo, como fator surpresa.

Medalhões como Lucas Lima, Scarpa e Bruno Henrique? Banco. E quando questionado pra justificar a ousadia, Luxa ironicamente responde: “Não sou quem escala o time. Eles se escalam”.

Assim, colocando em prática um time com leveza e ofensividade, Luxa começa a construir um time que vai se credenciar à briga pelo título do Brasileirão.

Pode – por que não – até derrapar diante do burocrático time corintiano, nesta final de Paulistão, mas que o Palmeiras é a melhor cara da competição, disso não tenham dúvidas.