Mauro Cabeção, boleiro da noite

Mauro Cabeção, boleiro da noite

Mauro Cabeção, boleiro da noite

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Enquanto durar a coluna Cadê Você, serão sempre lembrados boleiros do passado que você nunca mais ouviu falar.

Passou batido pela maioria dos bugrinos que o dia seis de agosto passado marcou o 12º ano da morte do polêmico lateral-direito Mauro Campos Júnior, o Mauro Cabeção, aos 49 anos de idade, que escreveu a sua história no Guarani com a conquista do inédito título brasileiro de 1978.

E que morte estúpida! Ele foi assassinado com seis disparos em sua cidade natal: Nova Odessa (SP).

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Segundo versão do delegado de polícia do município Antonio Donizete Braga, o crime foi passional e encomendado. Ele revelou ainda que dias antes do homicídio a vítima havia registrado boletim de ocorrência com relato de um triângulo amoroso, com envolvimento de sua companheira e uma outra mulher.

O pintor Felipe Delgado aceitou a oferta de R$ 4 mil para a execução de Mauro Cabeção em um bar na periferia de Nova Odessa. E mais: receberia um adicional de R$ 100 por cada disparo.

O assassino escondeu o rosto com um capuz, mas a polícia desvendou o crime qualificado, e a Justiça do município o condenou a 13 anos de prisão em 2007. A companheira de Mauro, acusada de ser mandante do crime, ficou presa por um período.

CARREIRA

Quem foi o Mauro jogador? Paradoxalmente um dos raros boleiros da noite a sobreviver no futebol. Bebia, fumava e se divertia com a mulherada em boates. Apesar de noites mal dormidas, tinha disposição para o trabalho, e marcava bem hábeis ponteiros-esquerdos. Alguns abusados têm cicatrizes de botinadas.

O vigor físico permitia que Mauro também atacasse, mas de forma consciente. Nas raras vezes que chegava ao fundo no campo, o cruzamento saía com efeito e encontrava o atacante de frente para o gol.

Foi assim nas passagens por Guarani, Portuguesa, Santos, Grêmio (RS) e Cruzeiro. Também passou pela seleção brasileira olímpica e três jogos na principal.

Curiosamente não foi a vida desregrada que encurtou a sua vida no futebol. Insistia em jogar apesar de contusão crônica no joelho. No final de uma carreira de pouco mais de dez anos, como não fazia o vaivém constante, optou pela fixação no miolo de zaga, e deu conta do recado.

Na época, exigia-se de laterais boa impulsão para coberturas no meio da área.

PORTEIRO

Fora de campo, Mauro era só alegria. Bem que tentou evitar o apelido de cabeção, mas com aquela imensa cabeça seria impossível sustentar tal briga. Também travou uma luta titânica para conseguir aposentadoria e vivia de míseros salários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), até que arrumaram-lhe um emprego de porteiro no ginásio de esportes do Guarani. De lá foi transferido para uma escolinha de futebol mantida pelo clube.

À noite, como ninguém é de ferro, encostava-se em balcão de bar e não fazia distinção de bebidas, desde que fossem alcoólicas. Assim foi tocando a vida até a morte.