Dia Nacional do Treinador de Futebol: tudo começa na prancheta

Os profissionais que tanto sofrem à beira do campo são imprescindíveis para o sucesso de um time de futebol

Os profissionais que tanto sofrem à beira do campo são imprescindíveis para o sucesso de um time de futebol

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Campinas, SP, 14 (AFI) – Nesta segunda-feira, o futebol brasileiro comemora o dia nacional do treinador de futebol. Em alusão a esta data, o Portal Futebol Interior, como não podia deixar passar, preparou uma matéria especial sobre estes profissionais que sofrem à beira do campo e, na maioria das vezes, levam a culpa nas derrotas. Por outro lado, não recebem os créditos nos triunfos.

Nos primeiros momentos da história do futebol, pouco ouvíamos falar de treinadores e sua importância era pouco notada nos desempenhos dos times. Com o passar dos anos, o futebol se tornou mais competitivo e a demanda física aumentou consideravelmente. Por isso, foi necessário buscar pessoas que pudessem ministrar treinamentos físicos aos jogadores.

O futebol se tornou o maior esporte mundial e algumas gerações de jogadores foram obrigadas a parar de jogar pela idade e pela própria necessidade física do jogo. Sendo assim, alguns desses ex-jogadores passaram a assumir o papel de treinadores e, utilizando a experiência prática adquirida ao longo da carreira de jogador, fizeram com que o treinamento de futebol evoluísse.

Logo, treinamento de futebol ganhou importância imprescindível e os estudos gradativamente mostravam que eram muitas as vertentes a atuar no desempenho do atleta de futebol . Outros profissionais, de área médica, humana e social, começaram a assumir cargos dentro do trabalho do atleta e da equipe. As comissões técnicas se tornaram multidisciplinares, contribuindo com o trabalho do treinador.

Dia Nacional do Treinador de Futebol: tudo começa na prancheta

Dia Nacional do Treinador de Futebol: tudo começa na prancheta

Contudo, o futebol ganhou notoriedade e a repercussão de resultados se tornou o fator principal em todo o trabalho realizado. Com todo o investimento feito e com os jogos sendo vistos cada vez por mais pessoas, a figura do treinador, antes pouco notada, ficou exposta e responsável por todos os resultados da equipe – principalmente, os ruins. Qualquer que fosse o resultado negativo, o treinador era e ainda é taxado de burro.

Muitos são os casos de ex-jogadores que tornaram-se treinador de sucesso e que mudaram a história do futebol brasileiro e mundial, como Zagallo, Telê Santana, Luxemburgo, Luis Felipe Scolari, Leão, Tite, Muricy Ramalho e tantos outros. Boa parte desses citados não chegou a fazer grande sucesso dentro de campo, mas fora das quatro linhas, à beira do campo, eles entraram na história do futebol comandando times que alcançaram a glória.

Há também os treinadores “estudiosos”, que não disputaram partidas dentro de campo como jogadores, mas cursaram universidades de educação física visando o cargo de treinador de futebol e conseguiram aplicar a teoria à prática, alcançando o mais alto nível do futebol à frente de seus clubes. São os casos de Carlos Alberto Parreira, Sebastião Lazaroni e Paulo Autuori.

O treinador de futebol nada mais é que parte de uma engrenagem que, se tiver todos os componentes necessários, tem tudo para alcançar o sucesso.

NA SELEÇÃO BRASILEIRA…
Poucos sabem, mas a Seleção Brasileira teve o seu primeiro treinador em 1914. O escolhido foi Rubens Salles, que, curiosamente, também era o capitão da equipe. A extinta Federação Brasileira de Sports (FBS), na época, convocou também Sylvio Lagreca para ajudar na função. O sucesso da dupla rendeu a Salles a missão de ser o primeiro treinador da história do São Paulo da Floresta, precursor do São Paulo Futebol Clube.

Muitos já puderam comandar a Seleção Brasileira, mas “apenas” cinco tiveram o prazer de levar o país do futebol ao topo do Mundo. Em 1958, o Brasil conquistou o seu primeiro título Mundial sob a batuta de Vicente Feola, que teve o prazer de comandar uma equipe com tremendos craques como Pelé, Garrincha, Vavá, Zito, Nilton Santos e muitos outros. Apesar do feito, era muito contestado por sua forma tranquila. Há quem diga que dormia no banco de reservas durante as partidas.

Felipão foi campeão Mundial de 2002, mas sofreu derrota vergonhosa na Copa de 2014, no Brasil. Em 2018, conquistou o Brasileirão pelo Palmeiras

Felipão foi campeão Mundial de 2002, mas sofreu derrota vergonhosa na Copa de 2014, no Brasil. Em 2018, conquistou o Brasileirão pelo Palmeiras

Em 1962, o Brasil levou o bi com o técnico Aymoré Moreira, treinador que ficou marcado por convocar pela primeira vez nomes como Rivelino e Tostão. Mais tarde, em 1970, na conquista do tri, a Seleção era comandada por Zagallo. Campeão como técnico e como jogador, Mario Lobo foi o que mais esteve à frente da equipe canarinho, 133 jogos. Após a conquista, voltou em 1998, mas caiu diante da França, na decisão.

Os últimos dois da lista são Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari. O primeiro foi o auxiliar do segundo em 2014 e conquistou o tetra, em 1994, com uma pequena ajuda do “baixinho” Romário. Felipão, por sua vez, montou uma equipe contestada e trouxe o pentacampeonato, em 2002, com uma equipe composta por nomes como Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Marcos. Em 2014, porém, ambos acabaram marcados com o vexame diante da Alemanha: derrota por 7 a 1, em pleno Mineirão, pelas semifinais da Copa do Mundo.

Na última temporada, Felipão ajudou o Palmeiras a ser campeão brasileiro pela segunda vez nos últimos três anos. Parreira ainda comandou a África do Sul na Copa de 2010, mas caiu no “grupo da morte” e não obteve o sucesso esperado. Luxemburgo não levou a Copa do Mundo, mas esteve no comando do Real Madrid. O “Pofexô” também não agradou os merengues e, mesmo com uma boa campanha, acabou deixando o clube, ficando longe do sucesso que teve, por exemplo, no Palmeiras, onde esteve no comando da chamada “Terceira Academia”.

NEGROS NO FUTEBOL…
Reflexo de uma sociedade racista como a brasileira, é muito raro ter um treinador negro no nosso futebol. Podemos citar pouquíssimos exemplos, como Didi, que iniciou a carreira de treinador, administrando juntamente a de jogador, nos tempos de Sporting Cristal, do Peru. Assumiu também a Seleção do país e obteve sucesso, classificando-a para a sua segunda Copa do Mundo e levando até às quartas de final do Mundial. Comandou também Cruzeiro, Fluminense e Botafogo, além de Fernebahçe e River Plate. Dizem que só não assumiu a Seleção Brasileira justamente por ser negro .

Andrade conquistou o Brasileirão de 2009 à frente do Flamengo

Andrade conquistou o Brasileirão de 2009 à frente do Flamengo

Anos se passaram e poucos treinadores negros se destacaram no cenário nacional. Nos últimos anos, surgiram outros exemplos de destaque Andrade assumiu o Flamengo de forma interina, ficou e levou o clube ao título brasileiro de 2009. Acabou demitido do Mengão na temporada seguinte e não recebeu nova oportunidade em um grande clube.

Cristovão Borges, que está desempregado, já dirigiu clubes como Vasco da Gama, Corinthians, Bahia e Flamengo, e Hemerson Maria, o qual conquistou o Campeonato Brasileiro da Série B com o Joinville, em 2014, são outros que conseguiram aparecer no cenário nacional.

ASPAS DO TREINADOR
O dia nacional do treinador de futebol traz desavenças entre os profissionais. Alguns comemoram, outros reclamam. O futebol vive uma fase conturbada em que um trabalho a longo prazo é quase impossível.

O Portal Futebol Interior aproveitou o dia para conversar com alguns treinadores. Guto Ferreira falou da importância da profissão no futebol, enquanto Tarcísio Pugliese, técnico do XV de Piracicaba, elogiou a classe, mas acredita que ela tenha muito a melhorar. Por fim, Emerson Leão criticou a forma como a profissão é tratada.

Guto Ferreira

Guto Ferreira

GUTO FERREIRA
“Todo trabalho bem feito precisa de uma liderança e dentro do futebol isso não pode faltar. Não apenas nas partidas, mas desde do início na preparação, nos treinamentos. O treinador dá uma contribuição a mais para o show, para o espetáculo que é o futebol. O treinador precisa estudar muito para realizar o melhor trabalho em uma determinada equipe e isso faz a diferença na hora de se comunicar com os jogadores e mostrar o trabalho antes, no momento e depois do jogo.”

TARCÍSIO PUGLIESE
“O treinador está sendo mais valorizado nos dias de hoje e tem um peso maior para as equipes. Mas ainda falta uma união maior entre a classe. Precisamos lutar por melhorias e ainda temos também muito o que aprender. Precisamos nos reinventar e estudar sempre. Toda equipe precisa de um treinador qualificado para colher grandes frutos.”

Tarcísio Pugliese

Tarcísio Pugliese

EMERSON LEÃO
“Infelizmente, a profissão de treinador de futebol está muito desprestigiada. É desagradável o modelo de administração nos dias de hoje. É lamentável uma equipe trocar cinco treinadores em um único ano. Na hierarquia, o técnico só perdia para o presidente. Hoje é o último. É algo que me incomoda e que eu não concorde, por isso resolvi me afastar. Sou um filho do futebol. Virei jogador aos 15 anos, me formei em Educação Física e acabei virando treinador após um convite do presidente do Sport e logo fomos campeões do brasileiro em cima do Guarani. A transição foi algo bem tranquila. Vivi bons momentos na área técnica, mas hoje só tenho o que lamentar a respeito da profissão. Lógico, tem treinador ganhando milhões, mas também tem os que ficam implorando para serem empregados.”