Quando passa a catarse e baixa a adrenalina o ser humano se deixa envolver pela névoa da razão e do bom-senso. E nunca é demais repetir que o futebol torna-se cada vez mais imprevisível, derruba opiniões e nocauteia os adivinhadores de resultados, como se houvesse lógica no mundo da bola. Portugal, 12 anos depois, botou a faixa no peito e Cristiano Ronaldo a taça da Eurocopa na cabeça, como se fosse um rei ungido por uma quase unanimidade.
Heroi ferido no banco de reservas orientando os companheiros
Mesmo como um ferido de guerra, seus atos e suas atitudes, ao ficar em campo, e depois sair chorando, mais a sua presença no banco e até na orientação dos companheiros na hora quase final da batalha, realçam a força de seu caráter.
Aliás, naquela batalha, o soldado ferido foi o combustível que mexeu com o brio de todos e Portugal teve uma vitória dramática, mas merecida.
VITÓRIA ALÉM MAR
A batalha de Sant Denis nos remete à história da Batalha de Aljubarrota, que sempre é lembrada por portugueses de lá e do além-mar. Para quem não sabe, cerca de 3 mil soldados portugueses enfrentaram um exército inimigo, que tinha mais gente, e os patrícios escreveram na história do país um feito extraordinário.
Fernando Santos: O que é feio para um campeão da Eurocopa?
O significado dessa conquista, além do link de Aljubarrota, durante a semana, Fernando Santos, o técnico, deu a seguinte resposta àqueles que disseram que Portugal fez uma campanha feia – empatou três jogos e ainda se valeu da marca de cal:
“Se somos feios no futebol e não perdemos a esperança é porque tem muita gente que reconhece a nossa feiura, assim mesmo nos ama. E o que é feio passa a ser bonito”.
E foi.
Os argonautas, navegadores da epopeia de Portugal nos descobrimentos do novo mundo, tinham bravura e os jogadores repetiram seus antepassados. O Brasil sabe o que é jogar em Saint Denis e os temores que o canto forte da Marselhesa causam nos visitantes. Superar isso não é fácil principalmente quando foi posto fora do jogo o argonauta Cristiano Ronaldo.
SEM NEYMAR AFUNDAMOS…
Quando perdemos NeYmar na Copa, o que aconteceu? Mergulhamos nas águas revoltas de um fracasso. Se outro dia, Messi, na Copa América não teve liderança, nem passou confiança, Cristiano Ronaldo foi a inspiração, mesmo fora de campo, para os argonautas de Fernando Santos.
Careca diferente de Quaresma beijada por Cristiano Ronaldo
Ao sair de campo, Cristiano Ronaldo beijou a careca de Quaresma, ali um voto explícito do soldado ferido, que com seu gesto, deve ter dito: Quaresma, depositamos a confiança de 11 milhões de patrícios em você, sem falar naqueles que um dia deixaram a pátria distante.
O futebol tem coincidências que passam despercebidas. Claro que este link tem um componente da história. Afinal, Napoleão invadiu a Europa inteira e queria tomar Portugal. Dom João VI, juntou a família real, mais 15 mil pessoas e sob a proteção da armada britânica, tomou o rumo do Brasil. Aqui foi o autor da globalização com a abertura dos portos, para saldar uma parte da dívida que foi a proteção inglesa.
Na final de Paris, ninguém bateu em retirada. Pelo contrário, os soldados da Cruz de Aviz enfrentaram com a alma e o coração os le bleus de Holand e de Deschamps, técnico da seleção.
Éder nasceu na Guiné Bissau, mas atua no futebol francês
NOME ENTRE MELHORES DA HISTÓRIA
Cristiano Ronaldo escreveu seu nome definitivamente na história do futebol português e mundial e livrou-se da sina de não ter nenhum título importante na seleção, coisa que Messi ainda não conseguiu. Outra coincidência é que o gol do título foi marcado por Éder, nascido na Guiné Bissau, e joga no futebol francês.
É outro que virou herói, mas não se pode esquecer de Rui Patrício. As traves e suas mãos santas estão gravadas na memória da torcida. Em 2004, o destino frustrou os portugueses. Agora, tudo é festa. Um time que será mais amado ainda pelo seu povo. Um país que fez tremer a Torre Eifel, o símbolo de um império.
Pepe e Rui Patrício: herois de uma nação de 11 milhões
Um país que, com pouco mais de 11 milhões, consegue formar uma boa seleção, mesmo, às vezes, sendo entreposto de jogadores de outros centros, que escolhem Lisboa como o caminho para se chegar à glória.
Vários brasileiros já fizeram essa rota, passando por lá em busca de seu descobrimento num futebol aonde o dinheiro jorra fácil – a velha Europa.
Hoje, a glória é de Portugal. E uma faixa no meio de sua torcida na decisão ficará marcada para sempre:
UMA NAÇÃO GIGANTE DE 11 MILHÕES E DESTEMIDA!
