Campinas, SP, 30 – Há exatos 20 anos, a seleção brasileira ganhava no Japão o pentacampeonato mundial, ao bater a Alemanha por 2 a 0, com dois gols de Ronaldo. O quinto título mundial no futebol fez o Brasil explodir em alegria. Para comemorar a data histórica, 14 jornalistas que o estiveram na Coreia do Sul e no Japão participaram de uma entrevista por vídeo com o técnico Luiz Felipe Scolari na sede do Athletico-PR, clube que comanda atualmente.
FELIPÃO SE EMOCIONA
Felipão, agora sem o bigode que o caracterizou desde os tempos de zagueiro do Caxias, chorou ao lembrar daquela conquista, de alguns momentos que ficaram em sua melhora nessas últimas duas décadas, como a gratidão aos profissionais que recuperaram Ronaldo e Rivaldo, machucados, antes mesmo de a competição começar, das dúvidas sobre o time, da escalação de Juninho, das broncas, dos momentos mais delicados da caminhada e, principalmente, dos atletas que compraram sua ideia nas sete partidas vencidas no torneio, duas delas contra a Turquia.
TÍTULO HISTÓRICO
Nunca uma seleção ganhou a Copa do Mundo vencendo sete jogos. Em 1970, no México, o time liderado por Pelé venceu seis partidas. Felipão disse que faria tudo de novo, que nunca pensou, lá atrás no início de sua carreira, que um dia pudesse comandar a seleção brasileira e, mais do que isso, que entraria para a história do futebol como um dos cinco técnico campeões do mundo. Na conversa 20 anos depois, em dois tempos, Felipão sabia o nome de todos os repórteres selecionados.
O único que participou da entrevista e não estava na Copa de 2002 foi Paulo Vinícius Coelho, o PVC, comentarista da SporTV, que escreveu um livro lançado nesta semana sobre a conquista brasileira. 5 Estrelas, a conquista do penta faz uma referência à quantidade de estrelas na camisa do Brasil, mas também aos cinco jogadores de maior destaque daquele time: Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cafu e Roberto Carlos. “Montei o time com três zagueiros para dar liberdade a Cafu e Roberto Carlos”, disse;
O treinador contou que a equipe ganhou cara e corpo na Copa América disputada na Colômbia, um país que estava em convulsão por causa das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), e que alguns jogadores brasileiros se recusaram a embarcar com a delegação por medo. Romário não foi. Nem Mauro Silva. “O Marcos não queria ir também. No aeroporto, disse que não iria. O Carlos Pracidelli, que era o preparados de goleiros do Palmeiras e da seleção, disse para o Marcos que ele era um bundão se não fosse. Que a gente confiava nele. O Marcos repensou e decidiu ir. Ali a seleção nasceu”, acredita Felipão.
ALEMANHA DEU O TROCO
Depois de 20 anos, Felipão lembra como se fosse ontem cada episódio dos 60 dias que todos passaram juntos, da fase de preparação da seleção antes de chegar à Ásia, passando pelos jogos um em cada cidade, em dois países diferentes, até chegar em Yokohama contra os alemães, que anos mais tarde, em 2014, na Copa no Brasil, dariam o troco eliminando a seleção do mesmo Felipão e ganhando depois na final da Argentina no Maracanã. Aos 73 anos, o treinador esbanja saúde, mas disse que seus dias à beira do gramado estão chegando ao fim. Ele vai mudar o foco da carreira e virar uma espécie de maneger no clube paranaense.
Nessa nova função, terá de administrar muito mais problemas, mas isso não o assusta. Em 2002, ele lembra de um problema dos grandes antes da final: como lidar com Ronaldo, que quatro anos antes, em 1998, na França, teve uma convulsão horas no dia de Brasil x França. A seleção perdeu aquele Mundial para o time de Zidane. “Perguntei para os médicos o que deveria fazer para não correr riscos com Ronaldo no dia da decisão. Eles me disseram que não deveria tocar no assunto, agir como se nada tivesse acontecido, deixar o Ronaldo leve e sem pressão. Foi o que fiz”, disse.
A Copa do Mundo de 2002 foi a última que o Brasil ganhou. De lá para cá, só seleções da Europa ficaram com a taça. Em 2006 foi a Itália. Em 2010 deu Espanha. A Alemanha ganhou em 2014. E na última edição, em 2018, os franceses celebraram com champanhe. Vinte anos depois, todos os jogadores daquele Copa, já estão aposentados, curtem em vida o que fizeram para a história.